Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O magnetismo e o Espiritismo Revista Espírita, março de 1858


Quando apareceram os primeiros fenômenos espíritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta (se se pode aplicar-lhe esse nome) iria dar um golpe fatal no Magnetismo, e que ocorreria com ele como com as invenções, das quais as mais aperfeiçoadas fazem esquecer a precedente. Esse erro não tardou em se dissipar, e, prontamente, se reconheceu o parentesco próximo dessas duas ciências. Todas as duas, com efeito, baseadas sobre a existência e a manifestação da alma, longe de se combaterem, podem e devem se prestar um mútuo apoio: elas se completam e se explicam uma pela outra. Seus adeptos respectivos, todavia, diferem em alguns pontos: certos magnetistas ( O magnetizador é aquele que pratica o magnetismo; magnetista se diz de alguém que lhe adote os princípios. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador; mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista.) não admitem, ainda, a existência, ou pelo menos a manifestação dos Espíritos: crêem poder tudo explicar pela única ação do fluido magnético, opinião que nos limitamos a constatar, reservando-nos discuti-la mais tarde. Nós mesmos a partilhamos no princípio; mas, como tantos outros, devemos nos render à evidência dos fatos. Os adeptos do Espiritismo, ao contrário, são todos partidários do magnetismo; todos admitem a sua ação e reconhecem nos fenômenos sonambúlicos uma manifestação da alma. Essa oposição, de resto, se enfraquece dia a dia, e é fácil prever que não está longe o tempo em que toda distinção terá cessado.
Essa diferença de opinião não tem nada que deva surpreender. No início de uma ciência, ainda tão nova, é muito simples que cada um, encarando a coisa sob o seu ponto de vista, dela se tenha formado uma idéia diferente. As ciências, as mais positivas, tiveram, e têm ainda, suas seitas que sustentam com ardor teorias contrárias; os sábios ergueram escolas contra escolas, bandeiras contra bandeiras, e, muito freqüentemente, pela sua dignidade, sua polêmica, torna-se irritante e agressiva pelo amor-próprio melindrado, e desviada dos limites de uma sábia discussão. Esperemos que os sectários do Magnetismo e do Espiritismo, melhor inspirados, não dêem ao mundo o escândalo de discussões muito pouco edificantes, e sempre fatais para a propagação da verdade, de qualquer lado que esteja. Pode-se ter sua opinião, sustentá-la, discuti-la; mas o meio de se esclarecer não é o de se dilacerar, procedimento pouco digno de homens sérios, e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo.
O Magnetismo preparou os caminhos do Espiritismo, e os rápidos progressos dessa última doutrina são, incontestavelmente, devidos à vulgarização das idéias da primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase, às manifestações espíritas, não há senão um passo; sua conexão é tal que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do outro. Se devêssemos ficar fora da ciência magnética, nosso quadro estaria incompleto, e se poderia nos comparar a um professor de física que se abstivesse de falar da luz. Todavia, como o Magnetismo já tem entre nós órgãos especiais, justamente autorizados, tornar-se-ia supérfluo cair sobre um assunto tratado com a superioridade do talento e da experiência; dele não falaremos, pois, senão acessoriamente, mas suficientemente para mostrar as relações íntimas das duas ciências que, na realidade, não fazem senão uma.
Devíamos, aos nossos leitores, essa profissão de fé, que terminamos rendendo uma justa homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os dissabores, estão corajosamente devotados à defesa de uma causa toda humanitária. Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre a sua conta pessoal, opinião que é sempre, mais ou menos, o reflexo de paixões vivas, a posteridade lhes fará justiça; colocará o nome do barão Du Potet, diretor do Jornal do Magnetismo, do senhor Millet, diretor da União Magnética, ao lado dos seus ilustres predecessores, o marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus esforços perseverantes, o Magnetismo, tornado popular, colocou um pé na ciência oficial, onde dele já se fala, em voz baixa. Essa palavra passou para a linguagem usual; ela não espanta mais, e quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais ao nariz.
Allan Kardec

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

CLARIVIDÊNCIA E CLARIAUDIÊNCIA: Faculdade de conhecimento extra-sensorial consistente em pacientes, em estado sonambúlico, de transe ou de vigília, perceberem imagens ou acontecimentos por meio de obstáculos, isto é, de corpos opacos

DEFINIÇÃO DE CLARIVIDÊNCIA: (de clari + vidência). Faculdade de conhecimento extra-sensorial consistente em pacientes, em estado sonambúlico, de transe ou de vigília, perceberem imagens ou acontecimentos por meio de obstáculos, isto é, de corpos opacos. J. Grasset desfaz-nos a confusão entre vidência e clarividência, quando deixa à palavra Clarividência o seu significado etimológico de faculdade de ver por meio de corpos opacos, portanto à distância, pouca ou longa (1).
DEFINIÇÃO DE CLARIAUDIÊNCIA: (de clari + audiência). Faculdade mediúnica consistente na audição, com nitidez, de vozes dos Espíritos (1).
CLARIVIDÊNCIA NA PARAPSICOLOGIA: capacidade de perceber visualmente sem usar o sentido da vista, cenas, imagens, seres, tanto visíveis como invisíveis para as pessoas comuns, está ligada à função psi-gama na classificação de Rhine. Este vocábulo adquiriu ao longo do tempo um significado mais amplo, abrangendo toda a gama de fenômenos compreendida pela criptestesia geral na nomenclatura de Richet (2).
CAPTAÇÃO DAS PERCEPÇÕES: toda percepção é mental… Ainda mesmo no campo das impressões comuns, embora a criatura empregue os ouvidos e os olhos, ela vê e ouve pelo cérebro, e, apesar de o cérebro usar as células do córtex para selecionar os sons e imprimir as imagens, quem ouve e vê na realidade, é a mente. Todos os sentidos na esfera fisiológica, pertencem à alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos reencarnados na Terra. Somos, por outro lado, receptores de reduzida capacidade, à frente das inumeráveis formas de energia que nos são desfechadas por todos os domínios do Universo, captando apenas humilde fração delas (3).
CLARIVIDÊNCIA E CLARIAUDIÊNCIA: atuando sobre os raios mentais do medianeiro, o desencarnado transmite-lhe quadros e imagens, valendo-se dos centros autônomos da visão profunda, localizados no diencéfalo, ou lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da cóclea. Portanto, pela associação dos raios mentais entre a entidade e o médium dotado de mais amplas percepções visuais e auditivas, a visão e a audição se fazem diretas, do recinto exterior para o campo íntimo, graduando-se, contudo, em expressões variadas (4).
VIDÊNCIA E AUDIÊNICA, MÉDIUNS VIDENTES: são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Pode-se dar no estado normal ou sonambúlico. MÉDIUNS AUDITIVOS: ouvem a voz dos Espíritos, algumas vezes uma voz íntima que se faz ouvir na consciência, de outras vezes é uma voz exterior, clara e distinta como a de uma pessoa viva (5).

BIBLIOGRAFIA
(1) PAULA, J. T. Dicionário Enciclopédico de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia.
(2) ANDRADE, H. G. Parapsicologia Experimental, cap. IV.
(3) LUIZ, A. Nos Domínios da Mediunidade, cap. XIX.
(4) LUIZ, A. Mecanismos da Mediunidade, cap. XVIII.
(5) KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, cap. XIV, itens 165 e 167.
G.T.

Animismo e Mistificação


Nos ensinamentos da Boa Nova, Cristo propõe: Brilhe a vossa luz, enquanto é dia.
Este é um ensino bonito, dentre tantos ensinos bonitos que o Mestre nos trouxe. Este é fundamental, porque este Brilhe a vossa luz é uma instigação, é uma insuflação à nossa vontade de crescer, de desenvolver nossas potências, transformar nossas potências em atividades.
Brilhe a vossa luz é muito bonito. Porque Cristo está dizendo que todos nós somos luz, todos carregamos essa chama interna, que muitas vezes bruxuleia, que muitas vezes perde o brilho gradativamente.
É como se as brumas do mundo fossem abafando o nosso brilho, o nosso luminar interior. 
É por causa disto que a proposta de Cristo se enche de valor para nós. Brilhe a vossa luz. 
Esse trabalho de desenvolver nossas potências, nossa própria realidade é um trabalho de desenvolver a nossa capacidade anímica, nosso animismo, nossa alma. 
A desenvoltura da alma, o progresso do ser é uma das objetivações de nossa vida na Terra. 
Estamos aqui, encarnados, para desenvolver nossas potências. 
A Terra é uma grande escola onde trabalhamos em prol de nós mesmos, em prol do nosso crescimento. Aqui é um laboratório em que, no dia a dia das refregas,  vamos conseguindo pôr para fora esse brilho que está internado em nós. 
Curiosamente, quando nos referimos a animismo, existem outras considerações relativas a essa referência. 
Porque, quando Aristóteles falou em animismo, ele pensava em outra coisa, ele pensava de outra maneira. 
Animismo para Aristóteles, por exemplo, era esse fato de alguém tomar um pé de coelho, o animal já morto, transformá-lo num pendentif, ou num chaveiro, ou numa peça qualquer, para dar sorte. 
Aristóteles imaginava que, todas as vezes que tomamos uma coisa morta e lhe damos características de coisa viva, dar sorte, por exemplo, é um ato de animismo. Conferimos alma a uma coisa que não a tem.
Quando pegamos uma pedra e achamos que essa pedra vai nos dar felicidade, vai trazer-nos felicidade interior, luz, harmonia, etc, estamos, segundo Aristóteles, criando um quadro de animismo, dando um valor dinâmico a algo que é inerte.
Mas, no campo do Espírito, no campo das coisas da alma, o animismo é essa exteriorização do próprio indivíduo, de cada um de nós. 
Quando se trata, por exemplo, de um fenômeno de ordem mediúnica, em que alguém diz estar dando passividade a um ser espiritual, ou estar manifestando um ser espiritual, a grande preocupação dos estudiosos dessa questão é verificar se de fato é o falecido que fala através do sensitivo, através do sujeito, através do médium, ou se é a própria mente do sujeito, do sensitivo, do médium que se exterioriza.
É verdade que carregamos no nosso íntimo muitos valores enraizados, armazenados no nosso inconsciente. Valores desta vida, valores de vidas passadas, que estão no nosso inconsciente. 
São riquezas ou pobrezas, mas são conquistas que estão no nosso íntimo, na nossa caixa preta e, em dadas circunstâncias, esse material vem à tona. 
Imaginemos que, num dado momento, sintamos um perfume e esse perfume nos remeta à infância, nos lembremos que nossa avó usava esse perfume. Em função disso, nos recordamos de alguma festa que fomos e a vovó usava esse perfume. Aí nos lembramos que nessa festa em que fomos, tínhamos determinado amigo, comíamos determinada coisa...
Vejamos como o perfume nos fez recordar, ir andando para trás. A isso se daria o nome de animismo. Quando a nossa memória trouxesse inconscientemente lá de dentro as coisas que estão armazenadas em nós. 
Animismo, então, significa essa projeção da alma do próprio sensitivo, a manifestação da nossa própria realidade, internalizada, coberta que, em dados momentos, vem a lume, em dado momento vem a flux e  aflora como se fosse uma outra entidade falando por nós. 
*   *   * 
É compreensível que todos nós sejamos indivíduos que temos muito material na nossa intimidade e nem sempre nos demos conta de quantas vezes esse material vem à tona, se manifesta, e podemos supor que seja uma entidade espiritual que esteja se manifestando através de nós. 
Essa parede entre o que é mediúnico e o que é anímico é uma parede muito tênue, muito fina porque, afinal de contas, não temos muita habilidade de perceber em que momento deixamos de ser nós mesmos e estamos filtrando um pensamento alheio.  
Nós não temos muita precisão com relação a isto. É necessário que haja muita especialidade, muito trato, muita habilidade para que nos apercebamos disto. 
Mas, sempre que se fala em animismo, levamos em conta que o indivíduo anímico,  não sabe que é anímico. 
Ninguém sabe que está pondo para fora esse material do seu passado, esse material da sua caixa preta, dos seus arquivos psíquicos. 
Quando o indivíduo passa a saber e usa isto de caso pensado, aí então o fenômeno deixa de ser anímico, tipicamente falando, e entramos no território da mistificação. 
A mistificação sempre caracteriza um engano, um engodo, pelo qual quero fazer alguém passar. 
Sempre que mentimos estamos mistificando e , no caso das manifestações espirituais, pode ser que o próprio Espírito que se manifesta, o próprio Espírito que se comunica, diga ser uma pessoa que ele não é. O sensitivo está drenando corretamente, o sensitivo está deixando passar aquela manifestação corretamente, mas o manifestante é que mente. 
Ele diz ser Rui Barbosa, ele diz ser Jesus Cristo ou qualquer outro vulto da História e não é. Nesse caso temos o animismo do Espírito comunicante dizendo ser quem ele não é.
Mas, encontramos outros casos em que o sensitivo, o médium finge estar dando passividade a um Espírito, finge estar recebendo um Espírito para enganar os outros, para obter lucros ou para qualquer outro objetivo escuso. Nesse caso, a mistificação não é mais do Espírito, é do médium. 
Muita gente procura médiuns na sociedade, procura terreiros, centros espíritas, cartomantes, quiromantes, médiuns quase sempre, sensitivos quase sempre. Contudo, as pessoas não têm a habilidade, não têm o traquejo, não têm o conhecimento para identificar essas coisas. Então, quase sempre entram nesse mundo da credulidade, acreditam simplesmente. 
É muito grande o número de pessoas inescrupulosas que tiram proveito da ignorância popular, que tiram proveito do desconhecimento geral. 
Por causa disto, é sempre importantíssimo que se tenha cautela com os fenômenos da mistificação. 
Como é que eu vou saber se há mistificação ou se não há mistificação? 
Verifiquemos onde é que a informação nos vai levar. 
A informação nos vai levar a alguma dependência de alguma coisa ou de alguém? Não acreditemos. 
A informação nos vai cobrar dinheiro, recursos para que resolvamos casos espirituais, problemas de amor, problemas familiares? Não acreditemos. 
As revelações que nos chegam são estapafúrdias, são irracionais? Não acreditemos. 
Não tenhamos nenhum medo em desacreditar de coisas que nos pareçam absurdas porque nós não devemos crer naquilo que é absurdo. 
Não há nenhum crime em rejeitarmos informações nefastas, o grande problema é quando aceitamos as informações mentirosas. 
Nas páginas de O livro dos médiuns, de Allan Kardec, há uma orientação muito interessante, quando o Espírito Erasto recomenda-nos que Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. 
E isso é lógico. A verdade sempre aparece, se a rejeito hoje, ela aparece amanhã, ela aparece depois de amanhã, se eu a negar amanhã. 
Porque a verdade é a Lei da vida, ela sempre aparecerá. 
Mas, a mentira deseja imediatamente impor-se porque se demorar ela será descoberta. 
Por isso todo mentiroso quer levar o maior número de pessoas o mais rapidamente possível. Se ele demorar, se a mentira demorar, as pessoas acabam por descobrir. 
Não misturemos, pois, animismo que é essa voz do nosso íntimo inconscientemente vazada, com a mistificação, que é o enganar aos outros de caso pensado. 

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 144, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em abril de 2008. Exibido pela NET, Canal 20,
 Curitiba, no dia 15 de junho de 2009.
Em 17.08.2009.