Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

segunda-feira, 20 de junho de 2011

TIPOS DE ESPÍRITAS


Em diferentes obras, Kardec dedicou-se a definir e caracterizar os espíritas de acordo com a forma com que lidam com o conhecimento doutrinário que lhes chega ao coração.

  Em O Livro dos Espíritos (1), ao apresentar o Espiritismo em seus três aspectos, o Codificador classifica os espíritas em três graus: os que crêem nas manifestações e as comprovam, sendo, portanto, experimentadores; os que percebem as conseqüências morais dessa experimentação e os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. Seguindo a mesma linha de raciocínio, em O Livro dos Médiuns (2), ele propõe uma nomenclatura para cada tipo de adepto, a saber:

  Os que crêem nas manifestações: espíritas experimentadores. Só se importam com os fenômenos e sua explicação científica.

  Os que, além dos fatos, compreendem as conseqüências morais, mas não as colocam em prática: espíritas imperfeitos, que não abrem mão de ser como são.

  Aqueles que praticam a moral espírita e aceitam todas as suas conseqüências: os verdadeiros espíritas ou espíritas cristãos, apresentando duas características básicas: a caridade como regra de proceder e, pela compreensão dos objetivos da existência terrestre, o esforço "por fazer o bem e coibir seus maus pendores” (3)

  Os demasiadamente confiantes em tudo o que se refere ao mundo invisível, aceitando sem verificação ou reflexão todos os conteúdos que lhes chegam às mãos: espíritas exaltados. Este tipo de adeptos é mais nocivo que útil à causa espírita. 

  Vamos nos deter nos dois últimos tipos. Em primeiro lugar, o verdadeiro espírita, reconhecível "pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (4). Chama-nos a atenção os termos usados por Kardec "coibir" e "domar". Ou seja, o esforço da transformação moral requer do interessado uma luta íntima fortíssima que, absolutamente, não é desamor a si mesmo, mas tenacidade na tarefa de substituir valores do mundo por valores espirituais. Ouve-se muito, dentro das casas espíritas, que a reforma interior não deve ser um sofrimento, e o desculpismo toma conta das criaturas que se reconhecem imperfeitas, mas... Continuam sendo como são, ou melhor, espíritas imperfeitos. A luta pela mudança interna é reconhecida, por inúmeros autores espirituais confiáveis, como imprescindível ao nosso amadurecimento espiritual. É a "decisão de ser feliz” (5) proposta por Joanna de Ângelis, que passa pela revisão de toda a nossa conduta diante de Deus e do próximo, pela coragem de enfrentar a si mesmo, reconhecendo os erros e iniciando o processo de correção de rumo.

  Sobraram os espíritas exaltados, apaixonados por modismos, novidades, revelações (principalmente quem foi quem em existências passadas). Freqüentam, muitas vezes, reuniões de estudo doutrinário, mas não estudam; citam best sellers do momento, mas não sabem dar exemplos da literatura consagrada de autores encarnados ou desencarnados. São ávidos por lançamentos editoriais sem conhecer as obras básicas ou o trabalho de Instrutores como Emmanuel, André Luiz e Joanna de Ângelis. Prejudicam a Doutrina porque divulgam conceitos equivocados, estimulando novos companheiros a seguir pelo mesmo caminho.

  É André Luiz que alerta, quanto a alguns "modos como nós, espíritas, perturbamos a marcha do Espiritismo” (6):

    *Esquecer a reforma íntima
    *Afastar-se das obras de caridade
    *Negar-se ao estudo
    *Abdicar do raciocínio, deixando-se manobrar por movimentos ou criaturas que tentam sutilmente ensombrar a área do conhecimento espírita com preconceitos e ilusões.

  O verdadeiro espírita ou o espírita cristão é aquele que adquiriu a "maturidade do senso moral" segundo o Codificador. Entendamos que essa maturação ainda não se completou (estamos na Terra!), mas representa o rompimento com o passado de erros e a obrigação de nos reformarmos (7), sem desculpas, contemporizações ou omissões. Em um texto de Obras Póstumas (8) encontramos o estímulo e o consolo para as dificuldades encontradas em nosso processo renovador:

"Se passarmos à categoria dos espíritas propriamente ditos, ainda aí depararemos com certas fraquezas humanas, das quais a doutrina não triunfa imediatamente. As mais difíceis de vencer-se são o egoísmo e o orgulho, as duas paixões originárias do homem. (...) Pode dar-se que a coragem e a perseverança fraquejem diante de uma decepção, de uma ambição frustrada, de uma preeminência não alcançada, de uma ferida no amor próprio, de uma prova difícil. Há o recuo ante o sacrifício do bem-estar, ante o receio de comprometer os interesses materiais, ante o medo do "que dirão?"; há o ser-se abatido por uma mistificação, tendo como conseqüência, não o afastamento, mas o esfriamento; há o querer viver para si e não para os outros, o beneficiar-se da crença, mas sob a condição de que isso nada custe.(...) Sem dúvida, podem os que assim procedem ser crentes, mas, sem contestação, crentes egoístas, nos quais a fé não ateou o fogo sagrado do devotamento e da abnegação; às suas almas custa o desprenderem-se da matéria. Fazem nominalmente número, porém não há contar com eles." (nosso grifo) 

  Temos, ainda, inúmeras fragilidades, mas já não queremos, por certo, "fazer número", ser estatística. Desejamos que o Espiritismo pudesse contar conosco, e acima de tudo, precisamos e queremos SERVIR A JESUS, aliando conhecimento doutrinário e prática evangélica.
 
 
Tereza Rodrigues
(1)       Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, 60a ed., FEB, Conclusão, item VII

(2)       Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns. 26a ed., FEB, 1ª parte, cap. III, item 28
(3)       Id.Ibid,
(4)       Kardec, Allan O Evangelho Segundo o Espiritismo, 86a ed. FEB, cap. XVII, nº 4
(5)       Franco, Divaldo P. Momentos de Saúde, pelo Esp. Joanna de Ângelis, cap.1
(6)       Xavier, Francisco C. Opinião Espírita, pelo Esp. André Luiz , Cap. 19
(7)       Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 86a ed. FEB, cap. XVII, nº 4
(8)       Kardec, Allan. Obras Póstumas. 26a. Ed. FEB, 1ª parte, “Desertores”

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pode o espírito perder seu perispírito?

 
1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos.

Há, no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida, gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo, corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao “perispírito, substância semi-material que serve de primeiro envoltório ao espírito”, [1] o qual, porque “possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo”, [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso de sua evolução, que “modela”, “aperfeiçoa”, “desenvolve”, “completa” e “talha” o corpo humano. [3]

O conceito kardeciano da semi-materialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção mais densa do perispírito viabiliza sua união intra-molecular com a matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção menos grosseira conserva mais flexibilidade e, decerto, justifica os seguintes fatos:

((1.º) o perispírito, apesar de sua união intra-molecular com este, “não é circunscrito pelo corpo, mas irradia em torno dele e o envolve como em uma atmosfera fluídica”; [4] 2.º) na emancipação da alma, essa porção menos grosseira é justo aquela “parte do seu perispírito” com a qual se afasta do corpo. [5] Se uma parte do perispírito segue com a alma, é que outra necessariamente não o faz, e isso porque só a morte restitui ao espírito sua plena liberdade, sempre parcial na emancipação, pois o princípio vital ainda existe na matéria e, assim, mantém parte do perispírito preso ao corpo. [6]

Portanto, não há corpos da alma, mas formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual, o que levou Kardec a dizer que o perispírito “contém ao mesmo tempo eletricidade, fluido magnético e, até certo ponto, a própria matéria inerte”. [7] Em Espiritismo, por efeito, não se fala de “corpo causal”, “mental”, “emocional”, etc. Inteligência, pensamento, vontade, memória, sentimento, todos os nossos atributos, ou faculdades, têm sede no espírito, no princípio inteligente, de quem o perispírito é só “o agente ou o instrumento de ação”, “o órgão sensitivo”. [8]

Ensinou o mestre lionês que se trata de aptidões do ser por completo, “e não apenas de certos órgãos, como nos homens”. E esclareceu que mesmo o espírito “cujo perispírito é mais denso” percebe os sons e sente os odores, “mas não por uma parte determinada do seu organismo, como quando vivo”. O perispírito, pois, não tem órgãos, até porque já constitui o órgão sensitivo do espírito; donde Kardec afirmar que, “destruído o corpo, as sensações se tornam generalizadas”, isto é, não mais “se localizam nos órgãos que lhes servem de canais”. [9]

Nada obstante, os atributos do espírito se traduzem nos fluidos; a causa puramente espiritual se torna efeito perispiritual, e até material. O pensamento não é fluido, nem matéria, mas se expressa por eles e neles, assim revelando sua natureza sã ou malsã, o que encontra resistência menor no meio fluídico e maior no meio físico.

De qualquer forma, o espírito realmente estende ao corpo sua influência mais ou menos determinante, como Kardec bem o dissera: “O perispírito representa um papel tão importante no organismo, e em uma série de afecções, que ele se liga à Fisiologia tão bem quanto à Psicologia”. [10]

Sendo um dos elementos constitutivos do homem, o perispírito desempenha importante papel em todos os fenômenos psicológicos e, até certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos. Quando as ciências médicas tiverem na devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão dado grande passo e horizontes inteiramente novos se lhes patentearão. “As causas de muitas moléstias serão a esse tempo descobertas e encontrados poderosos meios de combatê-las”. [11]

2. Pode o espírito perder seu perispírito?

Em termos espíritas, o que se pode estabelecer com certeza é que a alma jamais fica definitivamente sem perispírito. O Livro dos Espíritos, 186, ensina que, sim, “há mundos em que o espírito, deixando de viver num corpo material, só tem por envoltório o perispírito”. E nos dizem mais os guias da humanidade: “[...] e esse envoltório torna-se de tal maneira etéreo que para vós é como se não existisse; eis então o estado dos espíritos puros”. Estes, portanto, têm, sim, um envoltório fluídico.

De fato, quanto ao fluido universal, ou matéria elementar primitiva, O Livro dos Médiuns, 74, quinta pergunta, diz que, “para encontrá-lo na simplicidade absoluta seria preciso remontar aos espíritos puros”. E São Luís afirma no Evangelho Segundo o Espiritismo, IV, 24: “O perispírito mesmo sofre transformações sucessivas. Eteriza-se mais e mais, até a purificação completa, que constitui a natureza dos espíritos puros”. Até aqui, tudo bem.

O Livro dos Espíritos, 187, registra que “a substância do perispírito não é a mesma em todos os globos; é mais eterizada em uns do que em outros”. Mas completa: “Ao passar de um para outro mundo, o espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez que o relâmpago”. E este é o ponto controverso. Trata-se do espírito com perispírito, ou do espírito em si, desconsiderado seu corpo fluídico? As formulações a seguir nos levam à segunda alternativa. Se não, vejamos.

Tomado do meio ambiente, esse envoltório varia segundo a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo para outro, os espíritos mudam de envoltório, como mudamos de roupa ao passar do inverno ao verão, ou do pólo ao equador.[12]

Abandonando a Terra, o espírito ali deixa o seu invólucro fluídico e reveste outro apropriado ao mundo onde deve habitar. [13]

Num grau mais elevado, [o corpo] desmaterializa-se e acaba por se confundir com o perispírito. De acordo com o mundo a que o espírito é chamado a viver, ele se reveste do envoltório apropriado à natureza desse mundo. [14]

Estes dizeres, tomados à letra, de fato levam à existência de espírito sem perispírito, mas, ainda assim, tão só quando muda de mundo; lá estando, logo reveste “um outro”, e em breve lapso temporal, pois o espírito faz isso “com mais rapidez que o relâmpago”. O espírito sem perispírito é, pois, algo circunstancial, nunca definitivo. Não há, no Espiritismo, um dizer pétreo de que ele possa vir a existir permanentemente sem corpo fluídico. No máximo, verifica-se essa breve perda momentânea e, ressalte-se, por força de ascensão evolutiva, jamais por decesso da alma na maldade ou no crime, menos ainda na ignorância. [15] Outra não pode ser a perspectiva deste escrito kardeciano, publicado, é bom que se o diga vinte e um anos após a morte do mestre:

No sentido de desorganização, de desagregação das partes, de dispersão dos elementos, não há MORTE, senão para o invólucro material e o invólucro fluídico; mas, quanto à alma, ou espírito, esse não pode morrer para progredir; de outro modo, ele perderia a sua individualidade, o que equivaleria ao nada. No sentido de transformação, REGENERAÇÃO, pode dizer-se que o espírito morre a cada encarnação, para ressuscitar com atributos novos, sem deixar de ser o eu que era. Tal, por exemplo, um camponês que enriquece e se torna importante senhor. TROCARAM a choupana por um palácio, as roupas modestas por vestuários de brocado. Todos os seus hábitos MUDARAM seus gostos, sua linguagem, até o seu caráter. Numa palavra, o camponês MORREU, enterrou as vestes de grosseiro estofo, para RENASCER homem de sociedade, sendo sempre, no entanto, o mesmo indivíduo, porém TRANSFORMADO. [16]

Kardec visa, aqui, o espírito em si. É verdade. Mas nem por isso nos leva ao espírito permanentemente sem perispírito. Aliás, de forma sintomática, Kardec não fala de “morte” senão como “regeneração”; não fala de “troca”, de “mudança”, senão como “transformação”, e finda por incluir também aí o próprio perispírito:

A cada novo estágio na erraticidade, novas maravilhas do mundo invisível se desdobram diante do seu olhar, porque, em cada um desses estágios, um véu se rasga.  
 
AO MESMO TEMPO, SEU ENVOLTÓRIO FLUÍDICO SE DEPURA; TORNA-SE MAIS LEVE, MAIS BRILHANTE E MAIS TARDE RESPLANDECERÁ. 
 
É quase um novo espírito; é o camponês DESBASTADO e TRANSFORMADO. Morreu o espírito velho, mas o eu é sempre o mesmo. É assim, cremos que convém se entenda a morte espiritual.

Ao mencionar a mudança e mesmo, somente ali, a morte do perispírito, Kardec apenas e tão só o faz em contexto que contempla necessariamente as transformações ocasionadas pelo progresso da alma. Por esse motivo, sou de parecer que, por evidente assimilação, em tais casos há sentido figurado e não próprio.

Foi visto que o perispírito tem formas distintas de compactação fluídica, porções com maior e menor densidade, razão pela qual se liga molécula por molécula ao corpo e, ainda assim, não se circunscreve a este, irradia a sua volta, bem como, na emancipação, apenas parte dele segue a alma quando esta se afasta do corpo.

Se o espírito passa a outro mundo, só as porções mais identificadas com o mundo que está deixando se desagregam; somente seus elementos mais grosseiros voltam ao fluido universal desse mundo. Persistem integradas ao espírito as partes menos densas do seu invólucro fluídico, agora, mais predispostas a se articularem ao fluido universal do mundo mais adiantado a que já pode ir. É assim que “o espírito [sempre com perispírito] se reveste da matéria própria de cada mundo, com mais rapidez que o relâmpago”.

Este princípio, aliás, como se deduz da última citação kardeciana, é igualmente válido para as encarnações do espírito num mesmo mundo.

Entre uma vida e outra, pela gradativa depuração perispirítica, ele estará menos vinculado à resistência de suas identidades corporais, sempre mais persistentes nos estados de maior inferioridade. [17]

Não há, pois, para o espírito, senão a progressiva purificação do seu perispírito. Tal ideia vem confirmar estas proposições kardecianas de sentido bem mais próprio, porque isenta, aqui, da possibilidade meramente contextual de os termos assumirem qualquer figuração:

Já se disse que o espírito é uma flama, uma centelha. Isto se aplica ao espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma determinada. 
 
Mas, EM QUALQUER DE SEUS GRAUS, ELE ESTÁ SEMPRE REVESTIDO DE UM INVÓLUCRO OU PERISPÍRITO, CUJA NATUREZA SE ETERIZA À MEDIDA QUE ELE SE PURIFICA E SE ELEVA NA HIERARQUIA
 
Dessa maneira, a ideia de forma é, para nós, inseparável da ideia de espírito, a ponto de não concebermos este sem aquela. 
 
O PERISPÍRITO, portanto, FAZ PARTE INTEGRANTE DO ESPÍRITO, como o corpo faz parte integrante do homem.[18]

O Espiritismo experimental estudou as propriedades dos fluidos espirituais e a sua ação sobre a matéria. Demonstrou a existência do PERISPÍRITO, da qual já se suspeitava desde a Antiguidade, e que foi designado por [São] Paulo pelo nome de corpo espiritual, isto é, CORPO FLUÍDICO da alma após a destruição do corpo tangível. Sabe-se atualmente que ESSE INVÓLUCRO É INSEPARÁVEL DA ALMA, que ele é um dos elementos que constituem o ser humano; que é o veículo da transmissão do pensamento e que, durante a vida do corpo, serve de elo entre o espírito e a matéria. [19]


Sergio Aleixo[1] O Livro dos Espíritos, 134.
[2] A Gênese, XI, 18.
[3] A Gênese, XI, 11. Obs.: “[...] c'est l'Esprit lui-même qui façonne son enveloppe et l'approprie à ses nouveaux besoins [...]”; literalmente: "[...] é o próprio espírito que conforma (configura, forma) seu envoltório e o apropria a suas novas necessidades". Tradutores brasileiros optaram por fabrica ou modela, embora não constem do original os verbos fabriquer ou modeler. Porém, há boa sinonímia entre façonner e modeler: conformar, modelar.
[4] A Gênese, XI, 17.
[5] O Livro dos Médiuns, 119, primeira pergunta. Obs.: “Son Esprit, ou son âme, comme vous voudrez l'appeler, abandonne alors son corps, suivie d'une partie de son périsprit [...]"; literalmente: “Seu espírito, ou sua alma, como vós quiserdes chamá-lo, abandona então seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito [...]”.
[6] A Gênese, XI, 18: “Por um efeito contrário, essa união do perispírito com a matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do embrião, quando este princípio deixa de agir, em conseqüência da desorganização do corpo, que conduz à morte, essa união, que era mantida apenas por uma força atuante, se desfaz quando esta força deixa de agir. Então, da mesma forma como havia se unido, o perispírito se desprende, molécula por molécula, e o espírito é restituído à liberdade.
“Assim, não é a partida do espírito que causa a morte do corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do espírito”.
[7] O Livro dos Espíritos, 257. Obs.: Na sequência, o mestre chegou a sustentar que seria o próprio perispírito “o princípio da vida orgânica”; entretanto, em A Gênese, XI, 18, Kardec deixa claro que a união intramolecular entre perispírito e corpo só ocorre “sob a influência do princípio vital do embrião”. Kardec, aliás, já dissera que o espírito, mediante seu perispírito, “transmite aos órgãos, não a vida vegetativa, mas os movimentos que exprimem a sua vontade”. (Revista Espírita. Dez/1862. Estudos sobre os possessos de Morzine. 3.ª ed., F.E.B., 2007, p. 489.)
[8] O Livro dos Médiuns, 55. A Gênese, XIV, 22.
[9] O Livro dos Espíritos, 257.
[10] A Gênese, I, 39.
[11] Obras Póstumas. Caráter e conseqüências religiosas das manifestações dos espíritos. § I — O perispírito como princípio das manifestações; n. 12.
[12] Kardec. O Livro dos Espíritos, 257.
[13] Kardec. A Gênese, XIV, 8.
[14] Espírito São Luís, O Evangelho Segundo o Espiritismo, IV, 24.
[15] Cf. Sobre André Luiz. 3.10. Esferas Ovóides e Segunda Morte.
[16] Obras Póstumas. A Morte Espiritual. 32.ª ed., F.E.B., 2002, p. 205.
[17] Ensinava o mestre: “[...] os caracteres materiais são tanto mais persistentes quanto menos desmaterializados os espíritos, isto é, menos elevados na hierarquia dos seres. Depurando-se, os traços da materialidade desaparecem à medida que o pensamento se desprende da matéria. Eis por que os espíritos inferiores, ainda presos a Terra, são, no mundo invisível, mais ou menos o que eram em vida, com os mesmos gostos e as mesmas inclinações”. (Revista Espírita. Jun/1863. Considerações Sobre o Espírito Batedor de Carcassonne. 3.ª ed., F.E.B., 2007, p. 261/62.)
[18] O Livro dos Médiuns, 55.
[19] A Gênese, I, 39. Léon Denis Gráfica e Editora 2008. Obs.: Se Kardec empregou o tratamento católico romano “saint Paul”, não há razão para que seja omitido por simples tradutores.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Precisamos vivenciar Kardec em nossas instituições espíritas.

 
Caros amigos, é indispensável que nós seguidores da doutrina espírita, não nos deixemos levar pelo personalismo malsão, pelo egoísmo exacerbado, pelo orgulho disfarçado, e nem mesmo pela vaidade de achar que já sabemos tudo de espiritismo que não mais precisamos nos filiar a grupos de estudos nas nossas instituições.

Faz-se necessário o estudo constante da doutrina espírita, para quem verdadeiramente se diz espírita, e a casa espírita não pode deixar de dar oportunidade de estudos a todos, conclamando seus tarefeiros e freqüentadores para essa realidade.

Precisamos entender que a doutrina espírita não pode mais ser difundida de forma tão diversa daquela trazida ao nosso conhecimento pelos Imortais da vida Maior, e que para vivenciá-la de forma correta, necessário se faz conhecê-la em profundidade.

Verificamos em muitas oportunidades, nos encontros espíritas para estudo de temas pertinentes à nossa doutrina em seminários, em palestras, em eventos diversos, como a mensagem espírita é vivenciada das mais variadas formas, sem o mínimo compromisso com os fundamentos da codificação espírita.

Defendo a fidelidade doutrinária, com a simples preocupação de quem procura nos estudos das obras espíritas a forma mais adequada para servir de intérprete dos emissários Celestes nas tarefas sob nossa responsabilidade, sem a pretensão de querer com isso deixar transparecer que me considero “entendido no assunto, ou PHD em espiritismo, ou algo parecido”, mas sim, um eterno aprendiz interessado em buscar a tão sonhada reforma íntima que preciso empreender, pois bem sei ainda me encontro muito distante do ideal que se espera de quem estuda essa abençoada doutrina.

Na área da mediunidade, é onde mais se podem comprovar os absurdos que são praticados em instituições que se dizem espíritas, mas que nada de espiritismo realizam, e sim, simplesmente de mediunismo o que convenhamos não é a mesma coisa.

Assim sendo é conveniente, relembrar as orientações, dos órgãos encarregados pela vigilância e manutenção da pureza de nossa doutrina, para que possamos proceder em conformidade com os preceitos nobres de nossa doutrina, conforme segue.

PRESERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS NA PRÁTICA ESPÍRITA

Mensagem do Conselho Federativo Nacional aos Espíritas

"É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios." Bezerra de Menezes (Mensagem "Unificação", psicografia de Francisco Cândido Xavier - Reformador, agosto 2001).

Considerando que as idéias espíritas, tais como reencarnação, imortalidade, comunicação com os Espíritos e vida após a morte, têm sido alvo de interesse geral, propiciando a média a divulgação de filmes, teatro, livros e notícias de fatos ocorridos, que mostram, cada vez mais, a certeza dessas verdades que a Doutrina Espírita divulga há 150 anos;

Considerando que essa promoção perfeitamente compatível com os propósitos do Movimento Espírita que há o de colocar ao alcance e a serviços de todos a mensagem consoladora e esclarecedora da Doutrina Espírita, dando sentido à vida e trazendo respostas às inquietações de muitos seres humanos com tendência ao suicídio, à violência, ao uso das drogas e à desagregação familiar;

Considerando que, com a divulgação feita pela mídia, independentemente da ação do Movimento Espírita, é natural que um número cada vez maior de pessoas procure os núcleos espíritas, interessado em aprofundar-se no conhecimento dos ensinos doutrinários e em receber a assistência, o esclarecimento e a orientação de que necessita, bem como preparar-se para o trabalho voluntário, na assistência e to aos que necessitam de amparo espiritual e em outras atividades;

Considerando que esta circunstância oferece ao trabalhador espírita a oportunidade de intensificar o desenvolvimento de suas tarefas voltadas ao estudo, à difusão e à prática do Espiritismo, consciente de que a convicção do ser humano quanto à sua condição de Espírito imortal é fundamental para ajudá-lo a atravessar esta fase de transição em que nos encontramos, quando se prepara a Humanidade para ascender à condição de mundo de regeneração;

Considerando que o Centro Espírita continua a ser o núcleo básico da difusão espírita, propiciando espaço para todas as atividades de atendimento e de estudo aos interessados em receber os benefícios da Doutrina Espírita, tal como foi revelada pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec e nas obras que, seguindo suas diretrizes, lhe são complementares e subsidiárias, O Conselho Federativo Nacional, em sua reunião de 10 a 12 de novembro de 2006, recomenda:

A.. 1 - que os dirigentes e trabalhadores espíritas intensifiquem os seus esforços no sentido de colocar a Doutrina Espírita ao alcance e a serviços de todos os homens, divulgando os seus ensinos com o propósito de esclarecer fraternalmente, sem impor e sem pretender converter a quem quer que seja;

B.. 2 - que procuremos aprimorar, ampliar e multiplicar os núcleos espíritas, utilizando toda a sua potencialidade no atendimento às necessidades de assistência, de conhecimento, de estudo e de orientação que os seres humanos apresentam;

C.. 3 - que no desenvolvimento da tarefa de estudo, difusão e prática da Doutrina Espírita:

A.. 3.1 - estudemos constantemente a Doutrina Espírita, não só para o nosso próprio aprimoramento, como também, para manter o trabalho doutrinário dentro dos princípios espíritas, sem as influências nocivas de interpretações pessoais distorcidas;

B.. 3.2 - trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, impondo silêncio aos nossos ciúmes e à s nossas discórdias, para não prejudicar e nem retardar a execução do trabalho, em qualquer área de atividade em que nos encontremos;

C.. 3.3 - mantenhamos o Espiritismo com a pureza doutrinária própria do Cristianismo nascente, sem incorporar à sua prática qualquer forma de ritual, de sacramento ou de idolatria, incompatível com os seus princípios. É lícito, justo e conveniente orarmos em benefício de alguém que nasce de um casal que assume compromissos matrimoniais ou de alguém que retorna à vida espiritual.

Não é lícito, todavia, sacramentarmos esses gestos, chamando-os de "batizado espírita", "casamento espírita" ou "funeral espírita", mesmo quando se apresentam sob aparente legalidade.

As instituições que se classificam como espíritas, têm o dever decorrente de pautar a sua prática dentro dos princípios contidos nas obras básicas de Allan Kardec, que constituem a Codificação Espírita, e tem o direito constitucional de preservar a sua autonomia e liberdade de ação na execução desses princípios.

O Espiritismo não tem sacerdotes e nas atividades verdadeiramente espíritas a ninguém é dado o direito de consagrar atos ou fazer concessões, seja em nome de Deus, de Jesus, dos Espíritos Superiores ou da própria Doutrina Espírita;

D.. 3.4 - colaboremos com os órgãos públicos e com a sociedade em geral, em todas as suas ações marcadas pelos propósitos de solidariedade e de fraternidade, visando a assistência e a promoção material, social e espiritual do ser humano, preservando e praticando, todavia, a integridade dos princípios e objetivos doutrinários espíritas que caracterizam a instituição;

E. 3.5 - relacionemo-nos com os representantes e seguidores de todos os segmentos religiosos, procurando construir a base de um convívio salutar, marcado pelo respeito recíproco e pela fraternidade, base fundamental para a construção de uma sociedade em que a multiplicidade de convicções sociais, filosóficas ou religiosas não seja impedimento para a coexistência fraterna.

Com isto estaremos vivenciando e preservando plenamente os princípios da Doutrina Espírita.

Francisco Rebouças