Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

domingo, 29 de julho de 2012

As categorias de Espiritas. ( tipos de espiritas segundo Kardec) Entre os que adotam as idéias espíritas, há, como bem sabeis, três categorias bem distintas:


Não sois mais principiantes em Espiritismo. Assim, hoje deixarei de lado os detalhes práticos sobre os quais, devo reconhecer, estais suficientemente esclarecidos, para considerar a questão sob um aspecto mais largo, sobretudo em suas conseqüências. Este lado da questão é grave, o mais grave incontesta-velmente, pois que mostra o objeto para onde se inclina a Doutrina e os meios para atingi-lo. Serei um pouco longo, talvez, pois o assunto é muito vasto e, contudo, restaria ainda muito a dizer para o completar. Assim, reclamarei vossa indulgência considerando que, não podendo ficar convosco senão por algum tempo, sou forçado a dizer de uma só vez o que, em outras circunstâncias, eu teria dividido em várias partes.
Antes de abordar o ângulo principal do assunto, creio dever examiná-lo de um ponto de vista que, de certo modo, me é pessoal. Todavia, se não se tratasse senão de uma questão individual, seguramente com ela eu não me ocuparia; porém, ela se liga a várias questões gerais, podendo resultar instruções para todo mundo. Foi esse o motivo que me levou a aproveitar esta ocasião para explicar a causa de certos antagonismos que muita gente se admira de encontrar em meu caminho.
No estado atual das coisas aqui na Terra, qual é o homem que não tem inimigos? Para não os ter, fora preciso não estar na Terra, por ser esta a conseqüência da inferioridade relativa de nosso globo e de sua destinação como mundo de expiação. Para isso, bastaria fazer o bem? Oh! Não; o Cristo não está aí para o provar? Se, pois, o Cristo, a bondade por excelência, foi alvo de tudo quanto a maldade pôde imaginar, por que nos admirarmos de que assim suceda com aqueles que valem cem vezes menos?
O homem que pratica o bem - isto dito em tese geral - deve, pois, esperar contar com a ingratidão, ter contra ele aqueles que, não o praticando, são ciumentos da estima concedida aos que o praticam. Os primeiros, não se sentindo fortalecidos para se elevarem, procuram rebaixar os outros ao seu nível, pondo em xeque, pela maledicência ou pela calúnia, aqueles que os ofuscam.
Ouve-se constantemente dizer que a ingratidão com que somos pagos endurece o coração e nos torna egoístas; falar assim é provar que se tem o coração fácil de ser endurecido, porquanto esse temor não poderia deter o homem verdadeiramente bom. O reconhecimento já é uma remuneração do bem que se faz; praticá-lo tendo em vista esta remuneração, é fazê-lo por interesse. E depois, quem sabe se aquele a quem se faz um favor, e do qual nada se espera, não será levado a melhores sentimentos por um reto proceder? É talvez um meio de levá-lo a refletir, de abrandar sua alma, de salvá-lo! Esta esperança é uma nobre ambição; se nos decepcionamos, não teremos realizado o que nos cabia realizar.
Entretanto, não se deve crer que um benefício que permanece estéril na Terra seja sempre improdutivo; muitas vezes é um grão semeado que só germina na vida futura do beneficiado. Várias vezes já observamos Espíritos, ingratos como homens, serem tocados, como Espíritos, pelo bem que lhes haviam feito, e essa lembrança, despertando neles bons pensamentos, facilita-lhes o caminho do bem e do arrependimento, contribuindo para abreviar-lhes os sofrimentos. Só o Espiritismo poderia revelar este resultado da beneficência; só a ele estava dado, pelas comunicações de além túmulo, mostrar o lado caridoso desta máxima: Um benefício jamais é perdido, em lugar do sentido egoísta que lhe atribuem. Mas, voltemos ao que nos concerne.
Pondo de lado qualquer questão pessoal, tenho adversários naturais nos inimigos do Espiritismo. Não penseis que me lastime: longe disto! Quanto maior é a animosidade deles, tanto mais ela comprova a importância que a Doutrina assume aos seus olhos; se fosse uma coisa sem conseqüência, uma dessas utopias que já nascem inviáveis, não lhe prestariam atenção, nem a mim. Não vedes escritos muito mais hostis que os meus quanto aos preconceitos, e nos quais as expressões não são mais moderadas do que a ousadia dos pensamentos, sem que, no entanto, digam uma única palavra? Dar-se-ia o mesmo com as doutrinas que procuro difundir, se permanecessem restritas às folhas de um livro. Mas, o que pode parecer mais surpreendente, é que eu tenha adversários, mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Ora, é aqui que uma explicação se faz necessária.
Entre os que adotam as idéias espíritas, há, como bem sabeis, três categorias bem distintas:

1. Os que crêem pura e simplesmente nos fenômenos das manifestações, mas que não lhes deduzem nenhuma conseqüência moral;

2. Os que vêem o lado moral, mas o aplicam aos outros e não a si próprios;

3. Os que aceitam para si mesmos todas as conseqüências da Doutrina, e que praticam ou se esforçam por praticar a sua moral.

Estes, vós bem o sabeis, são os verdadeiros espíritas, os espíritas cristãos. Esta distinção é importante, porque explica bem as anomalias aparentes. Sem isso seria difícil compreender-se a conduta de certas pessoas. Ora, o que reza esta moral? Amai-vos uns aos outros; perdoai aos vossos inimigos; retribuí o mal com o bem; não tenhais ódio, nem rancor, nem animosidade, nem inveja, nem ciúme; sede severos para convosco mesmos e indulgentes para com os outros. Tais devem ser os sentimentos de um verdadeiro espírita, daquele que vê o fundo e não a forma, que põe o Espírito acima da matéria; este pode ter inimigos, mas não é inimigo de ninguém, pois não deseja o mal a ninguém e, com mais forte razão, não procura fazer o mal a quem quer que seja.

Como vedes, senhores, este é um princípio geral, do qual todo mundo pode tirar proveito. Se, pois, tenho inimigos, não podem ser contados entre os espíritas desta categoria, porque, admitindo-se que tivessem legítimos motivos de queixa contra mim, o que me esforço por evitar, isto não seria motivo para me odiarem, considerando-se que não fiz mal a ninguém. O Espiritismo tem por divisa: Fora da caridade não há salvação, o que significa dizer: Fora da caridade não há verdadeiros espíritas. Concito-vos a inscrever, doravante, esta dupla máxima em vossa bandeira, porque ela resume ao mesmo tempo a finalidade do Espiritismo e o dever que ele impõe.


Texto extraído do Discurso pronunciado nas Reuniões Gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux, do livro Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Kardec, de Allan Kardec, FEB, 2005.

terça-feira, 3 de julho de 2012

HÁ NOVIDADES NA DOUTRINA Espírita? Herculano Pires


 

SESSÕES DOUTRINÁRIAS


  A prática espírita não dispensa a constante orientação doutrinária dos que desejam realiza-la com eficácia e proveito. As sessões de estudo e debates são obrigatórias em todas as instituições. Aparentemente elas não são mediúnicas, mas na realidade o são, pois é fácil constatar-se que em todas elas os Espíritos orientadores estão presentes, auxiliando na orientação dos trabalhos, e às vezes até mesmo se manifestam para algum esclarecimento ou advertência. O estudo e os debates devem cingir-se às obras da codificação. Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. Seria o mesmo que, num curso de especialização em Pedagogia, passar-se a ler e discutir assuntos de Mecânica, a pretexto de variar os temas. O aprendizado doutrinário requer unidade e sequencia, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina.

  Todas as obras de Kardec devem constar desses trabalhos, desde os livros iniciáticos, passando pela Codificação propriamente dita, até os volumes da Revista Espírita. Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo, uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-la com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superaram o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demonstrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec. Não podem substitui-lo.

  É bom lembrar a regra do consenso universal, segundo a qual nenhum Espírito ou criatura humana dispõem, sozinhos, por si mesmos, de recursos e conhecimentos param nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações individuais pertence ao passado, aos tempos anteriores ao advento da Doutrina. Um novo ensinamento, a revelação de uma verdade nova depende das exigências doutrinárias de:

a) Concordância universal de manifestações a respeito;
b) Concordância da questão com os princípios básicos da Doutrina;
c) Concordância com os princípios racionais, lógicos e logísticos do nosso tempo.

  Fora desse quadro de concordâncias necessárias, que constituem o consenso universal, nada pode ser aceito como válido. Opiniões pessoais, sejam de sábios terrenos ou do mundo espiritual, nada valem para a Doutrina. O mesmo ocorre nas Ciências e em todos os ramos do Conhecimento da Terra. Porque o Conhecimento é uma estrutura orgânica, derivada da estrutura exterior da realidade e nunca sujeita a caprichos individuais. Por isso é temeridade aceitar-se e propagar-se princípios deste Espírito ou daquele homem como se fossem elementos doutrinários. Quem se arrisca a isso revela falta de senso e falta absoluta de critério lógico, além de falta de convicção doutrinária. O Espiritismo não é uma doutrina fechada ou estática, mas aberta ao futuro. Não obstante, essa abertura está necessariamente condicionada às regras de equilíbrio e de ordem que sustentam a validade e a eficácia da sua estrutura doutrinária.

  Como a Química, a Física, a Biologia e as demais Ciências, o Espiritismo não é imutável, está sujeita às mudanças que devem ocorrer com o avanço do conhecimento espírita. Mas como em todas as Ciências, esse avanço está naturalmente subordinado às exigências do critério racional, da comprovação objetiva por métodos científicos e do respeito ao que podemos chamar de natureza da doutrina. Introduzir na doutrina práticas provenientes de correntes espiritualistas anteriores a ela seria o mesmo que introduzir na Química as superadas práticas da Alquimia.

  As Ciências são organismos conceptuais da cultura humana, caracterizados pela sua estrutura própria e pelas leis naturais do seu crescimento, como ocorre com os organismos biológicos. Todos nós ainda trazemos a herança empírica do passado, anterior ao desenvolvimento da cultura científica, e somos às vezes tentados a realizar façanhas cientificas para as quais não estamos aptos. E como todos somos naturalmente vaidosos, facilmente nos entusiasmamos com a suposta possibilidade de nos tornarmos renovadores doutrinários. Nascem daí as mistificações como a de Roustaing, tristemente ridículas, a que muitas pessoas se apegam emocionalmente, o que as torna fantásticas e mesmo pessoas cultas, respeitáveis, deixam-se levar por essas mistificações, por falta de humildade intelectual e de critério científico. Espíritos opiniáticos ou sectários de religiões obscurantistas aproveitam-se disso para introduzir essas mistificações em organizações doutrinárias prestigiosas, com a finalidade de ridicularizar o Espiritismo e afastar dele as pessoas sensatas que sabem subordinar a emoção à razão e que muito poderiam contribuir para o verdadeiro desenvolvimento da doutrina.

  Por tudo isso, as manifestações mediúnicas em sessões doutrinárias devem ser recebidas sempre com Espírito crítico. Aceitá-las como verdade revelada é abrir as portas à mistificação, à destruição da própria finalidade dessas sessões. Também por isso, o dirigente dessas sessões deve ser uma pessoa de espírito arejado, racional, objetivo, capaz de conduzir os trabalhos com segurança. Kardec é sempre a pedra de toque para a verificação das supostas revelações que ocorrem. O pensamento espírita é sempre racional, avesso ao misticismo. Os Espíritos comunicantes, em geral, são de nível cultural mais ou menos semelhante ao das pessoas presentes. Não devem ser encarados como seres sobrenaturais, pois não passa de criaturas humanas desencarnadas, na maioria apegada aos seus preconceitos terrenos, a morte não promove ninguém a sábio, nem confere aos Espíritos autoridade alguma em matéria de doutrina. Por outro lado, os Espíritos realmente superiores só se manifestam dentro das condições culturais do grupo, não tendo nenhum interesse em destacar-se como geniais antecipadores de descobertas científicas que cabe aos encarnados e não a eles fazerem.

  A ideia do sobrenatural, nas relações mediúnicas, e a fonte principal das mistificações. Homens e Espíritos vaidosos se conjugam nas tentativas pretenciosas de superação doutrinária. Se não temos ainda, no mundo inteiro, instituições espíritas à altura da doutrina, isso se deve principalmente à vaidade e à invigilância dos homens e Espíritos que se julgam mais do que são. Nesta hora de muitas novidades, é bom verificarmos que as maiores delas já foram antecipadas pelo Espiritismo. É ele, o Espiritismo, a maior novidade dos novos tempos. Se tomarmos consciência disso, evitaremos os absurdos que hoje infestam o meio doutrinário e facilitaremos o desenvolvimento real da doutrina em bases racionais.


Escrito por José Herculano Pires no livro “O ESPIRITO E O TEMPO”