Àqueles que querem ver os fenômenos antes de crer no Espiritismo, Allan Kardec dá estes sábios conselhos:
R. E. 1861, p. 130: “Seria, de resto, bastante inconveniente que a propagação da Doutrina ficasse subordinada à publicidade de nossas reuniões: por mais numeroso que pudesse ser o auditório, ele seria sempre fortemente restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado nós sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção não se adquire a não ser pelo estudo, pela reflexão e por uma observação sustentada, e não, assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que elas sejam, e isto é tão verdadeiro, que o número dos que crêem sem nada terem visto, mas porque eles têm estudado e compreendido, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural, e estamos longe de censurar, mas queremos que o fenômeno seja visto em condições de aproveitamento. Eis porque dizemos: Primeiramente estude, e em seguida veja, porque assim compreenderá melhor. Se os incrédulos refletissem sobre essa condição, eles extrairiam a melhor garantia, em primeiro lugar, de nossa boa fé, e em seguida da potência da Doutrina. Aquilo que o charlatanismo mais teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é bastante tolo para se dirigir à inteligência que descobriria facilmente a sua farsa. O Espiritismo, ao contrário, não admite confiança cega; quer ver claramente em tudo; quer que se compreenda tudo, que se leve em conta tudo; então quando prescrevemos o estudo e a meditação, isto é apelar ao concurso da razão, e provar que a ciência espírita não teme o exame, pois que antes de crer nós fazemos do compreender uma obrigação.”
R. E. 1861 p. 377: “Quem tem a intenção de organizar um grupo em boas condições deve antes de tudo se assegurar do concurso de alguns adeptos sinceros, que levem a Doutrina a sério e cujo caráter conciliador e benevolente lhe seja conhecido. Com esse núcleo formado, que seja de três ou quatro pessoas, se estabelecerá regras precisas, seja para as admissões, seja para a direção das reuniões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém chegados terão de se conformar... A primeira condição a impor, se não se deseja ser a cada instante distraído por objeções ou questões ociosas, é pois o estudo preliminar. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à Doutrina do Livro dos Espíritos e certas outras condições especiais que se julgar a propósito. Isto é para os membros titulares ou dirigentes; para os ouvintes, que vêm geralmente para adquirir um acréscimo de conhecimentos e de convicções, se pode ser menos rigoroso; todavia, como existem os que podem causar problemas pelas observações deslocadas, é importante se assegurar de suas disposições; é preciso sobretudo, e sem exceção, afastar os curiosos e todos os que não sejam atraídos senão por um motivo frívolo.
A ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais. Nós consideramos como eminentemente útil abrir a reunião pela leitura de qualquer passagem de O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos; por este meio, se terá sempre presente na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos que se encontram a cada passo na prática. A atenção se fixará assim sobre uma multidão de pontos que escapam freqüentemente numa leitura particular, e poderão dar lugar a comentários e a discussões instrutivas, às quais mesmo os Espíritos poderão tomar parte...”
R. E. 1861, p. 380: “...Tudo isso, como se vê, é de uma execução muito simples, e sem acessórios complicados; mas tudo depende do ponto de partida, isto é, da composição dos grupos primitivos. Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por conseqüência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos tanto nas qualidades fundamentais. As sociedades numerosas têm sua razão de ser do ponto de vista da propaganda, mas, para os estudos sérios, é preferível se fazer uso dos grupos íntimos.”
R. E. 1861, p. 347: “De resto, qualquer que seja a natureza da reunião, quer seja numerosa ou não, as condições que deve preencher para atender o objetivo são as mesmas; é nisso que é preciso conduzir todos os seus cuidados e, aqueles que o preencherem, serão fortes, porque terão necessariamente o apoio dos bons Espíritos. Estas condições são comentadas no Livro dos Médiuns nº 341.
Um capricho bastante freqüente com alguns novos adeptos, é o de crer se passarem a mestres após alguns meses de estudo. O Espiritismo é uma ciência imensa, como sabem, e cuja experiência não se pode adquirir senão com o tempo, nisso como em todas as coisas. Há nessa pretensão de não ter mais necessidade dos conselhos de outrem e de se crer acima de todos, uma prova de insuficiência, pois que fracassa em um dos preceitos primeiros da Doutrina: a modéstia e a humildade. Quando os maus Espíritos encontram semelhantes disposições em alguns indivíduos, eles não falham em os superexcitar, distrair e persuadir de que somente eles possuem a verdade. É um dos escolhos que se pode encontrar, e contra o qual creio dever prevenir, acrescentando que não é suficiente se dizer Espírita para se dizer Cristão: é preciso prová-lo pela prática.”
R. E. 1865 p. 376: “O Espiritismo, tendo por objetivo a melhoria dos homens, não vem em absoluto buscar os que são perfeitos, mas aqueles que se esforçam por se transformar colocando em prática os ensinos dos Espíritos. O verdadeiro Espírita não é aquele que chegou ao objetivo, mas é aquele que quer seriamente atingi-lo. Quaisquer que sejam então seus antecedentes, ele será um bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e que seja sincero e perseverante em seu desejo de se corrigir. O Espiritismo é para ele uma verdadeira regeneração, porque rompe com seu passado; indulgente para com os outros como queria que o fossem para com ele, não sairá de sua boca nenhuma palavra malevolente nem injuriosa para as pessoas. Aquele que em uma reunião se afastar da conveniência provará não somente uma falta de saber-viver e de urbanidade, mas uma falta de caridade; aquele que se melindra quando contrariado em suas opiniões e pretende impor sua pessoa ou suas idéias, fará prova de orgulho; ou, nem um nem o outro estará no caminho do verdadeiro Espiritismo, isto é, do Espiritismo Cristão. Aquele que crê ter uma opinião mais justa que os outros a faria mais bem aceita pela doçura e pela persuasão; o azedume seria um grande erro de sua parte.
R. E. 1865, p. 92: “O Espiritismo não está apenas na crença na manifestação dos Espíritos. O erro daqueles que o condenam é de crer que ele não consiste senão na produção de fenômenos estranhos, e isso porque, não se dando ao trabalho de estudá-lo, dele não vêem senão a superfície. Esses fenômenos não são estranhos senão para aqueles que não lhes conhecem as causas, mas qualquer um que os aprofunde, neles não vê senão os efeitos de uma lei, de uma força da natureza que não se conhecia, e que, por isso mesmo, não são nem maravilhosos, nem sobrenaturais. Esses fenômenos, provando a existência dos Espíritos, que não são outros senão as almas daqueles que viveram, provam, por conseqüência, a existência da alma, sua sobrevivência aos corpos, a vida futura com todas as suas conseqüências morais. A fé no porvir, encontrando-se apoiada sobre as provas materiais, se torna inabalável, e triunfa da incredulidade. Eis porque, quando o Espiritismo se tiver tornado a crença de todos, não haverá mais nem incrédulos, nem materialistas, nem ateus. Sua missão é de combater a incredulidade, a dúvida, a indiferença; não se dirige, pois, àqueles que têm uma fé, e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que não crêem em nada, ou que duvidam. Ele não diz à pessoa para abandonar a sua religião; respeita todas as crenças quando elas são sinceras. A liberdade de consciência é a seus olhos um direito sagrado; Se não a respeitasse, falharia em seu primeiro princípio que é a caridade. Neutro em todos os cultos, ele será o lugar que os reunirá sob um mesmo pavilhão, aquele da fraternidade universal; um dia todos se estenderão as mãos, em lugar de se lançarem anátemas.
Os fenômenos, longe de serem a parte essencial do Espiritismo, não são senão o acessório, um meio suscitado por Deus para vencer a incredulidade que invade a sociedade: essa parte está, sobretudo na aplicação de seus princípios morais. É aí que se reconhecem os espíritas sinceros. Os exemplos de reforma moral, provocados pelo Espiritismo, são já bastante numerosos para que se possa julgar os resultados que produzirá com o tempo. É preciso que sua potência moralizadora seja bem grande para triunfar dos hábitos inveterados pela idade, e da leviandade da juventude. O efeito moralizador do Espiritismo tem então por causa primeira o fenômeno das manifestações que têm trazido a fé; se esses fenômenos fossem uma ilusão, como o pretendem os incrédulos, seria preciso bendizer uma ilusão que dá ao homem a força de vencer seus maus pendores.”
R. E. 1864, p. 141: “A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem nem de um Espírito; ela está na universalidade do ensinamento dado pelos últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, decidirá no porvir as questões litigiosas; fundirá a unidade da Doutrina bem melhor do que um concílio de homens. Esse princípio, disso estamos certos, senhores, fará o seu caminho, como fez o: Fora da caridade não há salvação, porque está fundamentado sobre a mais rigorosa lógica e na abdicação da personalidade. Não poderá contrariar senão os adversários do Espiritismo, e aqueles que não têm fé senão em suas luzes pessoais.”
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