Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pintura Mediunica (médium Pintor )

 
Revista espírita, Março 1864 - Allan Kardec

Um de nossos correspondentes de Maine-et-Loire, Sr. doutor C..., nos transmite o fato seguinte:
"Eis um curioso exemplo da faculdade medianímica aplicada ao desenho, e que se manifestou vários anos antes que o Espiritismo fosse conhecido, e mesmo antes das mesas girantes. Há três semanas, estando em Bressuire, eu explicava o Espiritismo e as relações dos homens com o mundo invisível, a um advogado de meus amigos, que não lhe conhecia a primeira palavra; ora, eis o fato que me contou como tendo uma grande relação com o que lhe dizia. Em 1849, disse ele, ia com um amigo visitar a aldeia de Saint- Laurent-sur-Sèvres e seus dois conventos, um de homens e o outro de mulheres. Fomos recebidos da maneira mais cordial pelo Padre Dallain, superior do primeiro, e que tinha também autoridade sobre o segundo. Depois de ter nos levado a passear nos dois conventos, nos disse: "Quero agora, senhores, vos mostrar uma das coisas mais curiosas do convento das senhoras." Fez trazer um álbum onde admiramos, com efeito, aquarelas de uma grande perfeição. Eram flores, paisagens e marinhas. "Estes desenhos, tão bem sucedidos, nos disse, foram feitos por uma de nossas jovens religiosas que é cega." E eis o que ele nos contou de um adorável buquê de rosas das quais um botão era azul: "Há algum tempo, em presença do Sr. marquês de La Rochejaquelein e vários outros visitantes, chamei a religiosa cega e lhe pedi para colocar-se em uma mesa para desenhar alguma coisa. Diluíram-se-lhe as cores, deram-lhe papel, lápis, pincéis, e ela começou imediatamente o buquê que vedes. Durante seu trabalho, colocou-se várias vezes um corpo opaco, seja cartão ou prancheta entre seus olhos e o papel, e o pincel por isso não continuou menos a caminhar com a mesma calma e a mesma regularidade. Sobre a observação de que o buquê era um pouco magro, ela disse: "Pois bem! vou fazer partir um botão da axila deste ramo." Enquanto ela trabalhava nessa retificação, mudou-se o carmim do qual se servia pelo azul; ela não se apercebeu da mudança, e eis porque vedes um botão azul" Os Sr. abade Dallain, acrescenta o narrador, era tão notável pela sua ciência, sua grande inteligência, quanto por sua alta piedade; não encontrei, disse ele, ninguém que me haja inspirado mais de simpatia e de veneração. O fato não prova, em nossa opinião, de maneira evidente, uma ação medianímica. Pela linguagem da jovem cega, é certo que ela via, de outro modo não teria dito: "Vou fazer partir um botão da axila deste ramo." Mas o que não é menos certo, é que ela não via pelos olhos, uma vez que continuava seu trabalho apesar do obstáculo que se lhe colocava à frente. Ela agia com conhecimento de causa, e não maquinalmente como um  médium. Parece, pois, evidente que era dirigida pela segunda vista; via pela visão da alma, abstração feita da visão do corpo; talvez mesmo estava, de maneira permanente,num estado de sonambulismo desperto.
Fenômenos análogos foram muitas vezes observados, mas contentava-se de achá-los surpreendentes. Sua causa não podia ser descoberta, pela razão que, ligando-se essencialmente à alma, seria preciso primeiro reconhecer a existência da alma; mas admitido esse ponto, não bastaria ainda; faltaria o conhecimento das propriedades da alma e o das leis que regem suas relações com a matéria. O Espiritismo, revelando-nos a existência o perispírito, nos fez conhecer, podendo exprimir-se assim, a fisiologia dos Espíritos; por aí nos deu a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, qualificados, à falta de melhores razões, de sobrenaturais por uns, e pelos outros de  extravagâncias da Natureza. Pode a Natureza ter extravagâncias? Não, porque as extravagâncias são caprichos; ora, a Natureza sendo a obra de Deus, Deus não pode ter caprichos, sem isso nada seria estável no Universo. Se há uma regra sem exceção, seguramente, essa deve ser a que rege as obras do Criador; as exceções seriam a destruição da harmonia universal.
Todos os fenômenos se ligam a uma lei geral, e uma coisa não nos parece extravagante senão porque não a observamos senão de um único ponto, ao passo que considerando se o conjunto, se reconheceria que a irregularidade desse ponto não é senão aparente e depende de nosso ponto de vista limitado.
Isto posto, diremos que o fenômeno do qual se trata não é nem maravilhoso nem excepcional, isso é o que vamos tratar de explicar. No estado atual de nossos conhecimentos, não podemos conceber a alma sem seu envoltório fluídico, perispiritual.
O princípio inteligente escapa completamente à nossa análise; não o conhecemos senão por suas manifestações, que se produzem com a ajuda do perispírito; é pelo perispírito que a alma age, percebe e transmite.
Liberta do envoltório corpóreo, a alma ou Espírito é ainda um ser complexo.
A teoria, de acordo com a experiência nos ensina que a visão da alma, do mesmo modo que todas as outras percepções, é um atributo do ser inteiro; no corpo ela está circunscrita ao órgão da visão; e é preciso o concurso da luz; tudo o que está sobre o trajeto do raio luminoso a intercepta.
Não ocorre assim com o Espírito, para o qual não há nem obscuridade nem corpos opacos. A comparação seguinte pode ajudar a compreender essa diferença.
O homem, a céu aberto, recebe a luz de todos os lados; mergulhado no fluido luminoso, o horizonte visual se estende todo ao redor.
Se está fechado numa caixa na qual não é praticada senão uma pequena abertura, tudo ao redor de si está na obscuridade, salvo o ponto por onde chega o raio luminoso.
A visão do Espírito encarnado está neste caso, a do Espírito desencarnado está no primeiro. Esta comparação é justa quanto ao efeito, mas não o é quanto à causa; porque a fonte da luz não é a mesma para o homem e para o Espírito, ou, melhor dizendo, não é a luz que lhe dá a faculdade de ver.
A cega de que se trata via, pois, pela alma e não pelos olhos; eis porque o corpo opaco colocado diante de seu desenho não a dificultava mais do que se diante dos olhos de um vidente fosse colocado um cristal transparente; é também porque ela podia desenhar à noite tão bem quanto de dia.
O fluido perispiritual irradiando tudo ao seu redor, penetrando tudo, levava a imagem, não sobre a retina, mas à sua alma. Nesse estado, a visão abarca tudo? Não; ela pode ser geral ou especial segundo a vontade do Espírito; pode ser limitada ao ponto onde concentra a sua atenção. Mas, então, dir-se-á, por que não percebeu ela a substituição da cor? Pode-se primeiro que a atenção levada sobre o lugar que ela queria colocar a flor a tenha desviado da cor; aliás, é preciso considerar que a visão da alma não se opera pelo mesmo mecanismo que a visão corpórea e que assim há efeitos dos quais não poderíamos nos dar conta; além disso, é preciso notar que nossas cores são produzidas pela refração de nossa luz; ora, as propriedades do perispírito sendo diferentes das de nossos fluidos ambientes, é provável que a refração ali não produziu os mesmos efeitos; que as cores não têm para o Espírito a  mesma causa que para o encarnado; ela podia, pois, pelo pensamento,ver rosa o que nos parecia azul. Sabe-se que o fenômeno da substituição das cores é bastante freqüente na visão comum. O fato principal é o da visão bem constatada sem o concurso dos órgãos da visão. Esse fato como se vê, não implica a ação medianímica, mas não exclui não mais, em certos casos, a assistência de um Espírito estranho. Essa jovem podia, pois, ser ou não ser médium, e que um estudo mais atento teria podido revelar.Uma pessoa cega gozando dessa faculdade seria um sujeito precioso de observação; mas para isso ser-lhe-ia necessário conhecer a fundo a teoria da alma, a do perispírito,e por conseguinte o sonambulismo e o Espiritismo. Nessa época não se conheciam essas coisas; hoje mesmo não é nos meios onde se os considera como diabólicos que se poderia entregar-se a esses estudos. Isso não é não mais naqueles onde se nega a existência da alma que se pode fazê-lo. Um dia virá, sem dúvida, em que se reconhecerá que existe uma física espiritual, como se começa a reconhecer a existência da medicina espiritual.
Fonte: Um médium Pintor Cego,Revista Espírita, Março de 1864, Allan Kardec, Editora Ide, 1ª edição. SP, Brasil 
 Imagem: Google                                       
Texto organizado e nos enviado pela confrade Nani Klepker.

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