Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Antecedentes históricos. Os primórdios do Espiritismo no Brasil e no Rio Grande do Sul.


Quando, em 1869, o grande missionário Allan Kardec desencarnara, o Espiritismo já se espalhara em várias direções pelo mundo. A França mantinha um movimento muito forte e operoso, sendo que Gabriel Dellane, Camille Flammarion e Leon Denis lhe seriam continuadores mais do que eficazes. A Espanha tinha um movimento pujante, e ali encontraremos na segunda metade do século XIX nomes de imortal grandeza para a Doutrina Espírita, dentre os quais poderíamos destacar Miguel Vives, Amália Domingos Soler e o próprio Angel Aguarod, que depois aportaria entre nós. Em outros países europeus o Espiritismo também aportara, como mostra o próprio Kardec, em sua correspondência mantida com quase todo o mundo civilizado.
Se até ali (final do século XIX) a Europa seria a maior potência mundial em cultura (a França em especial) e finanças (a Inglaterra), o novo século prepararia mudanças duras para aqueles povos. A intolerância, aliada à novas tecnologias, fez a guerra explodir na Europa de maneira incisiva, de forma quase constante e ininterrupta na primeira metade do século XX, aí incluídas as duas grandes guerras mundiais.

Talvez motivado também por isso, o fato é que o movimento espírita europeu seria alcançado por duro declínio nas primeiras décadas do século XX, por fatores vários. Mas a planta do Espiritismo já havia sido transmudada para o Brasil ainda na época em que Kardec era encarnado.
As últimas décadas do século XIX verão os primeiros grupos espíritas com grande força na então capital federal (Rio de Janeiro). A Doutrina era comentada e discutida pelos jornais e por intelectuais brasileiros Tanta divulgação e até um grande respeito pela maioria das instituições de então eram decorrentes de uma prática ferrenha da caridade, dos receituários e curas mediúnicas (tão procurados e em voga na época) e a própria racionalidade dos seus postulados, que tanto encantava vários intelectuais. É claro que havia muita crítica e descrédito ao Espiritismo, que sofria grandes combates já nesta época, seja por intelectuais, seja pelo Clero.
Por incrível que pareça, o nascente movimento espírita brasileiro já enfrentava os mesmos problemas de unificação que hoje defronta. Na tentativa de contornar essas dificuldades e unir as casas então existentes, eis que surge, em 1884, em pleno Império e antes mesmo da Abolição, a Federação Espírita Brasileira.
“Federação” porque congregava o conglomerado das casas espíritas brasileiras, embora inicialmente a unificação se daria apenas entre as casas fluminenses. Por certo, como o movimento ainda era incipiente, não se cogitava ainda da existência de federações estaduais, as quais certamente viriam a exigir uma “Confederação” (vale dizer, uma federação de federações) Espírita Brasileira. Mesmo com o surgimento posterior das federações estaduais, o nome Federação Espírita Brasileira permaneceu, seja pela tradição, seja pelo respeito conquistados.
Nesses primeiros momentos de unificação, a figura de Bezerra de Menezes, o “médico dos pobres”, político e deputado federal, será de incomparável grandeza, sendo que será o terceiro presidente da FEB, descarnando no cargo em 1900. Bezerra será considerado o “Kardec Brasileiro”, já que conseguira êxito na primeira grande unificação dos espíritas. E a FEB continuaria sua história até nossos dias.
As federações espíritas estaduais começam a surgir nos primeiros anos do século XX, sendo a do Amazonas (na época em grande apogeu econômico pelos seringais) uma das primeiras a surgir. No Rio Grande do Sul, entretanto, ainda haveria um grande caminho a trilhar até que as condições se fizessem propícias para tanto.
Nessa época, o Rio Grande do Sul é um Estado que atravessa grandes turbulências, em especial de ordem política e ideológica. Há muitas revoluções, muita dor e muito ódio. A política segue conturbada, sendo os conflitos resolvidos em sangue na maioria das vezes. Quase dez anos depois da criação da FEB estouraria no Estado a mais cruel das revoluções brasileiras: a Revolução Federalista, cujos efeitos espirituais ainda hoje podem ser sentidos nas reuniões mediúnicas. Esse cenário contrasta, e muito, com o Rio de Janeiro já bem mais civilizado. A intelectualidade aqui existente preocupa-se, na maioria das vezes, com as ideologias políticas sendo que a filosofia positivista encontrará grande expressão entre os políticos e governantes (em especial Julio de Castilhos e Borges de Medeiros).
Seriam necessárias ainda algumas décadas para que o Estado visse nascer sua Federação Espírita.

2. O Espiritismo nos chegou pelo mar.

Mas apesar de cenário tão adverso, o Espiritismo não deixou de aportar cedo no Rio Grande do Sul. Embora haja pouca documentação a respeito (como de resto, de toda a história do Espiritismo gaúcho), a tradição oral nos relata que em 1868 (ano anterior à desencarnação de Kardec) dois marinheiros espanhóis (como vimos, o Espiritismo espanhol atravessava grande fase) aportaram em São José do Norte, dando início à realização de sessões espíritas.
Médiuns e adeptos da Doutrina codificada por Kardec, logo sua atuação atraiu um número cada vez mais crescente de pessoas. Problematizados do corpo e do espírito, sofredores de todo tipo encontram consolo e orientação, saúde física, consolo e paz. Ocorrem fenômenos diversos, inclusive físicos e materializações. Estes, ao lado das predições premonitórias dos dois pioneiros, atraem ainda mais pessoas à sua presença.
É claro que nem tudo foram flores. Como sempre ocorre – ainda mais naquela época e dados os então fatores sócio-culturais de nosso Estado – a perseguição aos dois pioneiros faz-se implacável, em especial da mão de lideranças “cristãs”. Os dois são obrigados a fugir, indo encontrar refúgio inicialmente em Rio Grande e depois, após nova transferência forçada, em Pelotas.
A esses bravos pioneiros de quem a História não registrou maiores pormenores, atuando na região da hoje cidade de Rio Grande devemos sinceros louvores de gratidão.

3. “Sociedade Spirita Rio-Grandense”, 1887. Surgem as primeiras casas espíritas gaúchas.

Será na mesma cidade histórica de Rio Grande (então chamada cidade do “Rio Grande do Sul”) que se formará a primeira instituição espírita de nosso Estado. A ata de fundação da mesma anota a data de 25 de maio de 1887, tendo por primeiro presidente o Sr. Israel Correa da Silva (o qual presidiria a Federação Espírita do Rio Grande do Sul quase 40 anos depois, tendo sido seu terceiro presidente). A mesma ata dá por finalidade da associação “o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e sua aplicação às vivências morais, físicas, históricas e psicológicas”.
Em 1898, onze anos depois, surge em Rio Grande a “S.E. Allan Kardec”. Um pouco mais tarde (26/02/1901) na mesma cidade, nasce a S.E. Bezerra de Menezes.
Essas três instituições de Rio Grande, visando fortalecer-se pela união, congregando todos os espíritas do local, criaram, de 12 a 19 de março de 1903, a “Sociedade Espírita Kardecista”, que nascia da fusão das três entidades. Essa nova entidade, a “Sociedade Espírita Kardecista”, surgida em 1903, continua em funcionamento até hoje.
Antes disso, em 13 de julho de 1894, surgia em Porto Alegre o “Grupo Espírita Allan Kardec”, funcionando inicialmente à rua Duque de Caxias nº 254. Em 16 de janeiro de 1898 o grupo mudou de denominação, passando a se chamar “Sociedade Espírita Allan Kardec”, com o que se pode dizer que essa instituição, hoje com sede na Rua Andrade Neves nº 60, no centro de Porto Alegre, é a mais antiga instituição espírita gaúcha ainda em funcionamento. É claro que, sob outro prisma, se poderia dar esse título à hoje Sociedade Espírita Kardecista (sucessora da Sociedade Spirita Rio-Grandense), mas deixemos dissensões improdutivas à deriva.
Novos grupos começaram a se formar em Porto Alegre e outras regiões do Estado. E com a multiplicidade de grupos, se começou a pensar na necessidade de todos caminharem juntos, numa mesma direção. Enfim, se começou a pensar em Unificação entre os Espíritas.

4. A Unificação do Movimento Espírita Gaúcho. Surge a Federação Espírita do Rio Grande do Sul.

Não se tem um registro mais preciso de quem partiu a luta por unir todos os espíritas sob uma mesma instituição, ou seja, fundar uma federação espírita de âmbito estadual. Não se tem notícia de grandes dissensões entre as casas então existentes. Pelo contrário, elas eram poucas e suas lideranças se relacionavam bem e tinham uma relativa unidade de visão. Aliás, essa característica facilitará em muito os esforços para a criação da futura organização federativa.
O que a História registra é que Angel Aguarod, chegado ao Brasil em 1915, após fazer várias viagens pelo Estado, empreenderá uma verdadeira cruzada para unir todos os espíritas do Estado. Não se sabe exatamente se o que ele pretendia era unicamente fundar a federação, sendo mais certo que pretendia a união de todos, a fim de evitar discórdias e desvios, além de fortalecer a Doutrina como um todo. Um ou outro articulista inclusive atribui a Aguarod, de maneira um pouco açodada, a fundação da FERGS, quando foi ele apenas um dos fundadores e maiores entusiastas, tendo sido seu quarto presidente, em 1926. O que não se pode negar é que Aguarod teve fundamental participação nesse processo.
Isso nos faz imaginar, portanto, uma série de conversas, encontros, troca de idéias entre as lideranças espíritas locais sobre como a instrumentalizar essa Unificação, sendo a criação de uma federativa um dos caminhos mais óbvios, já que o Estado do Rio Grande do Sul era um dos poucos que ainda não haviam criado a sua entidade.
As articulações que costuraram a união de todos desembocaram na convocação e realização do 1º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul, que se daria na sede da Sociedade Espírita Allan Kardec (então localizada na General Vitorino nº 22) entre 15 e 17 de fevereiro de 1921. Mas antes disso, a fundação da nova entidade foi precedida de ampla discussão do estatuto, o que se deu a partir de outubro de 1920. O trabalho de elaboração e discussão do projeto de estatuto esteve a cargo da comissão organizadora do congresso, sendo presidida pelo Coronel Frederico Augusto Gomes da Silva.
O objeto principal do 1º Congresso – composto pelas sociedades espíritas então existentes no Estado e por pessoas físicas ligadas ao Espiritismo – foi a discussão do estatuto elaborado pela referida comissão, tendo nele sido aprovado, pelo que se tem a data de 17 de fevereiro de 1921 como a data de fundação da Federação Espírita do Estado do Rio Grande do Sul (posteriormente a palavra “Estado” seria suprimida do nome da federativa). Seu primeiro presidente seria o arquiteto Ernani Carlos Falcão Müzzel.
Só quase dois anos depois, em 30 de dezembro de 1922 é que entidade adquiriu personalidade jurídica, com o registro de seus atos sociais.
A FERGS nasceria e se manteria sempre como sociedade civil, espírita, de caráter religioso, filosófico e cientifico, tendo por finalidade a unificação e a orientação doutrinária de suas entidades federadas.

Hoje, a Federação Espírita do Rio Grande do Sul – FERGS, é apresentada como “uma sociedade civil, espírita, de caráter científico, filosófico, religioso, educacional, cultural e de ação social, sem fins lucrativos, resultante da união de sociedades civis, espíritas, do Estado, em cujo território situa seu âmbito de ação, tendo por finalidade a unificação, orientação, coordenando e dinamizando o Movimento Espírita do Estado integrando o Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira – FEB” (www.fergs.org.br).

5. Os primeiros anos. Sede própria:

Os primeiros anos da FERGS foram bastante difíceis no que se refere aos recursos materiais. A Federação funcionava em uma sala da Sociedade Espírita Allan Kardec, à Rua General Vitorino, 146, possuindo apenas uma mesa e um pequeno armário. Os recursos financeiros mal davam para as necessidades mais essenciais. Mas como escrevia o Dr. Pompilio de Almeida Filho, referido por Ney da Silva Pinheiro à pág. 28 da edição 419 da revista “A Reencarnação”, “nossa federação, que arrostava impavidamente a sua pobreza material, impunha-se às suas federadas e ao mundo profano como um padrão de força moral, que não temia cotejo com outras entidades religiosas”.
Na reunião federativa da noite de 20 de agosto de 1924, o então presidente Ildefonso da Silva Dias focalizou a necessidade da FERGS buscar uma sede própria, uma casa pequena que fosse, onde pudesse exercer minimamente suas funções e atividades federativas. Cria-se uma comissão de finanças para concretizar o projeto da sede própria. Nessa comissão para levantamento de fundos, muitos foram os que trabalharam e se dedicaram incansavelmente, merecendo destaque Antonio Teixeira Ellwanger, a quem se deve grande parte do sucesso da empreitada. O sonho, entretanto, somente se concretizará em 1952, quase 28 anos depois.
Antes disso, no início da década de 1940, Francisco Spinelli, ao chegar de Bom Jesus, adquire em Porto Alegre duas casas geminadas na Rua Avaí, uma destinada à residência sua com a família e a outra para abrigar a sede da FERGS, a quem graciosamente a cede.
Em final de maio de 1952 (31 anos após sua fundação), finalmente, a nova sede passa a abrigar a FERGS na Av. Desembargador André da Rocha nº 45/49. A inauguração oficial será somente em 16 de agosto, por falta de mobiliário.
Apesar disso, em momento algum a FERGS teve suas atividades interrompidas em seus 85 anos de atividades.
A sede da FEGS teve concluída a sua construção graças à extrema dedicação do Coronel Engenheiro Felisberto do Amaral Peixoto, o qual na presidência da Comissão Técnica, valendo-se de recursos financeiros próprios a fim de não atrasar a obra, alcançou a sua conclusão. O terreno foi doado pelo Município de Porto Alegre, na gestão do Dr. Clóvis Pestana.
Graças aos esforços desses abnegados homens, a “Casa do Espírita Gaúcho” pôde ser inaugurada, embora apenas em dois andares e sem os outros tantos que o projeto inicial previa, ainda pendentes de construção. Localiza-se em área privilegiada, no centro da capital gaúcha, sendo a “Casa-Máter” de todos os espíritas gaúchos.

6. Os presidentes da FERGS:

Ao longo de sua trajetória até agora, a FERGS teve 21 presidentes, sendo que cinco deles exerceram um segundo mandato não sucessivo.
Ildefonso da Silva Dias é o primeiro dos presidentes a exercer um segundo mandato, sendo o primeiro a ser reeleito para um novo período. O General Roberto Michelena é o presidente que mais tempo ocupará a presidência em períodos sucessivos: oito anos consecutivos, entre 1941 e 1947. Mas quem mais tempo exerceu a presidência da FERGS, somados dois períodos distintos será Jason de Camargo, num total de 10 anos à frente da federativa (1992/1997 e 2001/2005). Já a primeira (e, por enquanto, única) mulher a exercer a presidência será Gládis Pedersen de Oliveira (a partir de 2006).

Eis os presidentes que dirigiram a FERGS:
(1) 1921/1922: Ernani Carlos Falcão Müzzel, arquiteto;
(2) 1923: Ildefonso da Silva Dias, engenheiro civil;
(3) 1924/1925: Ismael Correa da Silva, contador;
(4) 1926: Angel Aguarod, professor;
(5) 1927: Mário Matos Santos, cartógrafo;
(6) 1928/1929, Adalberto Pio Souto, advogado;
(7) 1930: Leonel Oliveira, funcionário público;
(8) 1931/1932: Paulo Hecker, advogado e farmacêutico;
(9) 1933/1936: Ildefonso da Silva Dias, engenheiro civil (segundo mandato);
(10) 1937/1940: Felix de Abreu e Silva, engenheiro civil
(11) 1941/1947: General Roberto Pedro Michelena
(12) 1948/1951: Coronel Hélio de Castro;
(13) 1952/1955: Francisco Spinelli, advogado (falecido no exercício da presidência);
(14) 1955/1959: Coronel Hélio de Castro (segundo mandato);
(15) 1960/1961: Coronel Paulo Fernandes de Freitas;
(16) 1962/1963: Ney da Silva Pinheiro, economista;
(17) 1964/1965: Coronel Paulo Fernandes de Freitas (segundo mandato);
(18) 1966/1971: José Simões de Mattos, representante comercial;
(19) 1972/1977: Hélio Burmeister,engenheiro agrônomo;
(20) 1978/1983: Maurice Herbert Jones, funcionário público;
(21) 1984/1987: Salomão Jacob Benchaya, economista;
(22) 1988/1991: Hélio Burmeister, engenheiro agrônomo (segundo mandato);
(23) 1992/1997: Jason de Camargo, químico e físico;
(24) 1998/2001: Nilton Stamm de Andrade, bancário aposentado;
(25) 2002/2005: Jason de Camargo (segundo mandato);
(26) 2006/(…): Gládis Pedersen de Oliveira, pedagoga.

Dados biográficos e principais realizações dos presidentes serão objeto de trabalho à parte nesta mesma publicação, ao qual encaminhamos o amigo leitor.
Em que pese a importância capital de todos os presidentes, queremos aqui destacar apenas os nomes de Francisco Spinelli, Angel Aguarod e de José Simões de Mattos, homens cujas histórias se confundem com a história da própria FERGS, os quais também serão objeto de trabalhos em separado nesta edição especial.
Angel Aguarod foi a pedra fundamental para o nascimento da entidade e para a nascente Unificação (já no plano espiritual será o impulsionador do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita); Spinelli foi o grande empreendedor (inaugurou a nova sede e a livraria, além de ser o pioneiro em diversas campanhas, alcançando importância nacional, perante a FEB); e Mattos foi grande entusiasta da família, em especial no que tange à evangelização da infância e da juventude, as caravanas do Evangelho aos lares, evangelho no lar, dentre outras bandeiras que ergueu em nome da FERGS.
A todos os presidentes e a todos que na obscuridade dos bastidores e do trabalho abnegado ergueram o monumento que é hoje a instituição máter do Espiritismo gaúcho, nosso sincero obrigado.

7. Natanael, o Guia Espiritual da FERGS:

Ainda que de passagem, é interessante anotar outro dado relevante para todos nós: certa vez o médium Francisco Cândido Xavier revelou o nome do guia espiritual da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Trata-se de Natanael, aquele de quem, conforme passagem bíblica, Jesus disse a ele se referindo: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo” (João, 1,47).
Permitimo-nos uma pequena explicação biográfica sobre esse apóstolo. Natanael é um dos doze apóstolos de Jesus, embora quase todos o conheçam como Bartolomeu, como era chamado por todos. Entretanto, Jesus a ele se dirige o chamando de Natanael (João, 1,45).
Buscando explicação para essa duplicidade de nomes, acreditam os estudiosos que Bartolomeu talvez fosse o sobrenome de Natanael, já que “bar” em aramaico significa “filho” (daí, Bartolomeu significar “filho de Talmai”). Muito pouco se sabe sobre Natanael (ou Bartolomeu), já que a Bíblia não traz outras referências a seu respeito, a não ser o arrolar entre os apóstolos de Jesus. Diz a tradição que teria vivido como missionário na Índia, tendo sido crucificado de cabeça para baixo.

8. Um campo de grandes realizações.

A FERGS escreveu (e prossegue escrevendo) sua trajetória com letras de luz. Trabalho incomensurável em prol da Doutrina Espírita, da Unificação e de todos os aqueles que sofrem.
Nessa imensa Seara mourejaram nomes que se imortalizaram por seu amor incondicional às verdades espíritas e a todos os seres humanos, além de criaturas outras cujo nome a memória física apagou, mas que sob o manto do anonimato foram também atores de tão bela epopéia de trabalho e amor.
A evangelização espírita da infância e da juventude e o estudo sistematizado da doutrina espírita foram campanhas que nasceram no seio da FERGS, para depois se espargirem pelo Brasil todo, após terem sido encampadas pela FEB.
O Departamento de Assuntos da Família, nascido no coração da evangelização, foi e é um dos mais atuantes do Brasil. Entre nós se implantaram as caravanas do evangelho aos lares, trazidas por Jose Simões de Mattos do exemplo de Chico Xavier em Uberaba. O Evangelho no Lar, por sua vez, em campanha permanente, iluminou muitos lares que descobriram o Consolador.
Na gestão de Jason de Camargo, eis que surge a inovadora campanha “Educação dos Sentimentos”, lançada através da Revista A Reencarnação e que rendeu um livro maravilhoso de título homônimo, além de outros inúmeros eventos, mobilizando o Estado inteiro, a todos convidando à reforma íntima para a felicidade. O próprio Jason assumiu pessoalmente a direção dessa tarefa, trabalhando incansavelmente pela sua expansão e sucesso. Não podemos aqui esquecer de um dos maiores pilares dessa campanha pela reforma íntima: o ex-presidente Nilton Stamm de Andrade, com sua palavra incisiva mas sábia, tocando a todos os corações.
O Projeto Conte Mais surge como outro marco do Movimento Espírita, em especial no que tange à Evangelização das novas gerações. Capitaneado em grande parte pela atual presidente Gladis Pedersen de Oliveira, o projeto – composto de diversos trabalhadores – coletou diversas histórias de cunho moral, usadas em especial nas aulas de Evangelização e as reuniu em livros divididos por faixa etária. O projeto alcançou tamanho êxito que os livros passaram a ser adotados pela rede pública de ensino e pelas escolas leigas, com recomendação da própria secretaria estadual de educação.
Aliás, aqui merece referência também a Editora Francisco Spinelli, que já editou os livros da Coleção Conte Mais, editora essa que é um sonho concretizado do ex-presidente que lhe dá o nome.

A Livraria Espírita Francisco Spinelli também completou recentemente seu cinqüentenário, sendo outra obra de Spinelli. Cumpre referir que a difusão pelo livro é outra marca da FERGS, estando sua livraria presente em todas as mais de 50 edições da famosa feira do livro de Porto Alegre, a maior de todas em céu aberto da América Latina.
A divulgação espírita foi outro grande ponto de excelência da federativa gaúcha. Além do primado da revista A Reencarnação, publicada há 72 anos ininterruptos, do Jornal Diálogo Espírita, o Espiritismo seria levado às ruas através de diversos programas radiofônicos, jornais leigos e espíritas e até mesmo da televisão.
No que tange à Unificação, a FERGS teve papel fundamental e decisivo para a celebração do famoso Pacto Áureo na FEB, em 1949, em especial pelas mãos amorosas de Francisco Spinelli e do Gen. Pedro Michelena.
E a FERGS prossegue sempre. Em cada viagem, em cada reunião regional, na chuva, no frio, lá estará a FERGS levando o Espiritismo, a qualificação dos trabalhadores espíritas, a mensagem evangélica e de Unificação. A tarefa é imensa e não se faz esperar.
Os próximos 85 anos certamente nos reservam muitas conquistas, mas também muitas lutas. Mas a FERGS estará conosco, assim como nós estaremos com a FERGS, pois a FERGS somos todos nós.

Pesquisa bibliográfica:

  1. Revista “A Reencarnação” nº 419, p. 26/39, artigo “Síntese do Processo Histórico do Espiritismo no Rio Grande do Sul”, de Ney da Silva Pinheiro.
  2. Revista “A Reencarnação” – edição comemorativa do cinqüentenário da FERGS, dezembro de 1971.
  3. Exemplares diversos da coleção de “A Reencarnação”, edição FERGS.
— Matéria veiculada na revista Reencarnação de Fevereiro de 2008.
João Alessandro Muller é Procurador do Estado, Diretor da Fergs e Presidente da AJERS – Associação Jurídico-Espirita do RGS.

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