Caravana da Fraternidade

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Francisco Spinelli

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A vista espiritual ou dupla vista

01- A alma é imortal - Gabriel Dellane - pág. 63
A vista espiritual ou dupla vista
A vista espiritual vulgarmente chamada dupla vista ou segunda vista, lucidez, clarividência, ou, enfim, telestesia e, agora, criptestesia, é um fenômeno menos raro do que geralmente se Imagina. Muitas pessoas são dotadas dessa faculdade, sem o suspeitarem; apenas o que há é que ela se acha mais ou menos desenvolvida. Facilmente se pode verificar que é estranha aos órgãos da visão, pois que se exerce, sem o concurso dos olhos, durante o sonambulismo natural ou provocado. Existe nalgumas pessoas no mais perfeito estado normal, sem o menor vestígio aparente de sono ou de estado extático. Eis o que a respeito diz Allan Kardec:

"Conhecemos em Paris uma senhora em quem a vista espiritual é permanente e tão natural quanto a vista ordinária. Ela vê sem esforço e sem concentração o caráter, os hábitos, os antecedentes de qualquer pessoa que se lhe aproxime; descreve as enfermidades e prescreve tratamentos eficazes, com mais facilidade do que muitos sonâmbulos ordinários. Basta-lhe pensar numa pessoa ausente, para que a veja e designe. Estávamos um dia em sua casa e vimos passar pela rua alguém das nossas relações e que ela jamais vira. Sem ser provocada por 'qualquer pergunta, fez dessa pessoa o mais fiel retrato moral e nos deu a seu respeito opiniões muito ponderadas.

"Contudo, essa senhora não é sonâmbula; fala do que vê, como falaria de qualquer outra coisa, sem se distrair das suas ocupações.
E' médium? Não o sabe, pois, até há bem pouco tempo, nem de nome conhecia o Espiritismo."Podemos aditar ao do Mestre o nosso testemunho. Há uma vintena de anos, demo-nos com uma Sr.a Bardeau, que gozava dessa faculdade. Descrevia personagens que viviam na província, muito longe, ao Sul, personagens que ela nunca vira e de cujos caracteres, no entanto, apresentava circunstanciados pormenores. Conservava-se, todavia, no estado ordinário, com os olhos bem abertos, conversando sobre outros assuntos, interrompendo-se de quando em quando para acrescentar alguns traços que completavam a fisionomia ou o caráter das pessoas ausentes.
Hoje, ainda conhecemos uma parteira, Sr.a Renardat, que pode ver a distância, sem estar adormecida. Tivemos disso prova inegável, porquanto descreveu com fidelidade um dos nossos tios, residente em Gray, indicou uma enfermidade que ele tinha e que os médicos ignoravam e lhe predisse a morte, sem jamais o haver conhecido. Essa senhora vê os Espíritos, como vê os vivos. Muitas ocasiões tivemos de convencer-nos, pelas afirmações dos nossos amigos, de que ela entretinha relações com almas que haviam deixado a Terra, pois fazia delas retratos muito semelhantes e a linguagem que lhes atribuía lembrava a de que usavam durante a vida terrena.
Desde há quinze anos, temos tido numerosas oportunidades de estudar a mediunidade vidente, que nem sempre se manifesta com esse cunho de constância que se nota nas narrativas acima. As mais das vezes, é fugitiva, temporária, mas, mesmo assim, nos faculta a certeza de que a crença na imortalidade não é vã ilusão do nosso espírito prevenido e sim uma realidade grandiosa, consoladora e sobejamente demonstrada.
Aliás, vamos citar bom número de experiências que demonstram ser objetiva a visão dos Espíritos, porquanto esta coincide, explicando-as, com fenômenos físicos que nos caem sob a percepção dos sentidos materiais e que toda gente pode verificar.Quando uma mesa se move e um médium vidente descreve o Espírito que sobre ela atua; quando esse médium chega a anunciar o que o Espirito vai dizer por intermédio do móvel, é despropositado imaginar-se que ele não veja realmente, uma vez que a sua predição se realiza e o Espírito dá testemunho de sua presença, exercendo ação sobre a matéria. Se quisermos refletir que, há cinquenta anos, no mundo inteiro se procede continuamente a pesquisas espíritas; que elas se processam nos mais diversos meios; que foram fiscalizadas milhares de vezes por investigadores pertencentes às classes sociais mais instruídas e, por conseguinte, menos crédulas, forçoso será considerarmos absurdo supor-se não sejam os Espíritos que produzam tais fenômenos.
É, pois, por meio de incessantes comunicações com o mundo invisível, por meio de ininterruptas relações com os habitantes do espaço, que chegamos a adquirir conhecimentos certos sobre as condições da vida de além-túmulo. Lembremo-nos de que existem mais de duzentos jornais publicados em todas as línguas que se falam no globo, que cada um prossegue isoladamente em seus trabalhos e que, malgrado a essa prodigiosa diversidade quanto às fontes de informações, o ensino geral é o mesmo, em suas partes fundamentais. Há-se de convir em que semelhante acordo é bem de molde a servir de fundamento à convicção que se gerou em cada experimentador, depois de haver estudado por si mesmo. Exponhamos, conseguintemente, sem cessar, os resultados obtidos; não nos cansemos de colocar sob as vistas do público os documentos que possuirmos e, talvez lentamente, mas com segurança, chegaremos a conseguir que penetrem nas massas estes conhecimentos indispensáveis ao progresso e à felicidade delas.

O envoltório da alma fez objeto de perseverantes estudos da parte de Allan Kardec. Ele próprio confessa que, antes de conhecer o Espiritismo, não tinha idéias especiais sobre tal assunto. Foram seus colóquios com os Espíritos que lhe deram a conhecer o corpo fluídico e lhe proporcionaram compreender o papel e a utilidade desse corpo. Concitamos os que queiram conhecer a gênese dessa descoberta a ler a Revue Spirite, de 1858 a 1869. Verão como, pouco a pouco, se foram reunindo os ensinamentos a respeito, de maneira a constituir-se uma teoria racional que explica todos os fatos, com impecável lógica.

Não podendo estender-nos demasiado sobre este ponto, limitar-nos-emos a citar uma evocação, que poderá servir de modelo a todos os investigadores que desejem verificar por si mesmos estes ensinamentos. Evocação do Doutor Glas. As perguntas eram feitas por Allan Kardec, sendo dadas pelo médium escrevente as respostas.
"P. — Fazes alguma distinção entre o teu espírito e o teu perispírito? Que diferença estabeleces entre essas duas coisas?
R. — Penso, pois que sou e tenho uma alma, como disse um filósofo. A tal respeito, nada mais sei do que ele. Quanto ao perispírito, é, como sabes, uma forma fluídica e natural. Procurar, porém, a alma é querer achar o absoluto espiritual.
P. — Crês que a faculdade de pensar reside no perispírito? Numa palavra: que alma e perispírito são uma e mesma coisa?
R. — É exatamente como se me perguntasses se o pensamento reside no nosso corpo. Um é visto, o outro se sente e concebe.
P. — Não és, então, um ser vago e indefinido, mas um ser limitado e circunscrito?
R. — Limitado, sim, porém, rápido como o pensamento.
P. — Peço determines o lugar onde aqui te achas.
R. — À tua esquerda e à direita do médium.
Nota — Allan Kardec se coloca exatamente no lugar indicado pelo Espírito.

P. — Foste obrigado a deixar o teu lugar para mo ceder?
R. — Absolutamente. Nós passamos através de tudo, como tudo passa através de nós; é o corpo espiritual.
P. — Estou, portanto, colocado em ti ?
R. — Sim.
P. — Mas, como é que não te sinto?
R. — Porque os fluidos que compõem o perispírito são muito etéreos, não suficientemente materiais para vós outros. Todavia, pela prece, pela vontade, numa palavra, pela fé, podem os fluidos tornar-se mais ponderáveis, mais materiais e sensíveis ao tato, que é o que se dá nas manifestações físicas.

Nota — Suponhamos um raio de luz penetrando num lugar escuro. Podemos atravessá-lo, mergulhar nele, sem lhe alterarmos a forma, nem a natureza. Embora esse raio luminoso seja uma espécie de matéria, tão rarificada se acha esta, que nenhum obstáculo opõe à passagem da matéria mais compacta."
Evidentemente, a melhor maneira de chegar-se a saber se os Espíritos têm um corpo consistia em perguntar-lho. Ora, nunca, desde que se fazem evocações, alguém comprovou que os desencarnados hajam dado uma resposta negativa. Todos afirmam que o envoltório perispirítico é, para eles, tão real, quanto o nosso corpo físico o é para nós. Tem-se, pois, aí um ponto firmado pelo testemunho unânime de todos os que hão sido interrogados, o que explica e confirma as visões dos sonâmbulos e dos médiuns. Chegamos assim a uma ordem de testemunhos que fazem ressalte das concepções puramente filosóficas o perispírito, atribuindo-lhe existência positiva.
02 - A Gênese - Allan Kardec - cap. XIV, XV
22. O perispírito é o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual: é por ele que o Espírito encarnado está em contínua relação com os Espíritos; é por ele, enfim, que se cumprem, no homem, fenômenos especiais que não têm a sua causa primeira na matéria tangível, e que, por esta razão, parecem sobrenaturais. É nas propriedades e na irradiação do fluido perispiritual que se deve procurar a causa da dupla vista, ou visão espiritual, que se pode também chamar visão psíquica, da qual muitas pessoas estão dotadas, frequentemente com o seu desconhecimento, assim como da visão sonambúlica. O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito; é por seu intermédio que o Espirito encarnado tem a percepção das coisas espirituais que escapam aos seus sentidos carnais. Pelos órgãos do corpo, a vista, o ouvido e as diversas sensações estão localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido esçiritual, ou psíquico, elas estão generalizadas; o Espírito vê, ouve e sente por todo o seu ser o que está na esfera de irradiação de seu fluido perispiritual.

Estes fenômenos são, no homem, a manifestação da vida espiritual; é a alma que age fora do organismo. Na dupla vista, ou percepção pelo sentido psíquico, ele não vê pêlos olhos do corpo, se bem que, frequentemente, por hábito, os dirija para o ponto sobre o qual leva a sua atenção; vê pêlos olhos da alma, e a prova disto é que vê tudo tão bem com os olhos fechados, e além do alcance de seu raio visual; ele lê o pensamento representado figuradamente no raio fluídico.

23.- Embora, durante a vida, o Espírito esteja preso ao corpo pelo perispírito, ele não é de tal modo escravo que não possa alongar o seu laço e se transportar ao longe, seja na Terra, seja sobre qualquer ponto do espaço. O Espírito não está senão com pesar ligado ao seu corpo, porque a sua vida normal é a liberdade, ao passo que a vida corpórea é a do servo preso à gleba. O Espírito é, pois, feliz por deixar o seu corpo, como o pássaro deixa a sua gaiola; ele agarra todas as ocasiões para dele se libertar, e se aproveita, por isto, de todos os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. É o fenômeno designado sob o nome de emancipação da alma; sempre ocorre no sono; todas as vezes que o corpo repousa, e que os sentidos estão em inativi-dade, o Espírito se desliga. (O Livro dos Espíritos, cap.VIII). Nestes momentos, o Espírito vive da vida espiritual, ao passo que o corpo não vive senão da vida vegetativa; ele está em parte no estado que estará depois da morte; percorre o espaço, conversa com os seus amigos e outros Espíritos livres, ou encarnados como ele.

O laço fluídico que o retém ao corpo não está definitivamente rompido senão na morte; a separação completa não ocorre senão pela extinção absoluta da atividade do princípio vital. Tanto que o corpo viva, a qualquer distância que esteja, o Espírito para ele é instantaneamente chamado, desde que a sua presença seja necessária; ele, então, retoma o curso de sua vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva uma lembrança de suas peregrinações, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho; dele traz, em todos os casos, intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos novos, e justificam o provérbio: A noite traz conselho.Assim se explicam igualmente certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc. e que não são outras do que as manifestações da vida espiritual.

24. - Uma vez que a visão espiritual não se efetua pelos olhos do corpo, é que a percepção das coisas não ocorre pela luz comum: com efeito, a luz material está feita para o mundo material; para o mundo espiritual existe uma luz especial cuja natureza nos é desconhecida, mas que, sem dúvida, é uma das propriedades do fluido etéreo impressionando as percepções visuais da alma. Há, pois, a luz material e a luz espiritual. A primeira tem focos circunscritos nos corpos luminosos; a segunda tem seu foco por toda a parte: e a razão pela qual não há obstáculos para a visão espiritual; ela não se detém nem pela distância, nem pela opacidade da matéria; a obscuridade não existe para ela. O mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.

25. - A alma, envolvida pelo seu perispírito, carrega assim nela seu princípio luminoso; penetrando a matéria, em virtude de sua essência etérea, não há corpos opacos para a sua visão. Entretanto, a visão espiritual não tem nem a mesma extensão, nem a mesma penetração em todos os Espíritos; só os puros Espíritos a possuem em todo o seu poder; nos Espíritos inferiores, ela é enfraquecida pela grosseria relativa do perispírito, que se interpõe como uma espécie de névoa. Ela se manifesta em diferentes graus nos Espíritos encarnados pelo fenômeno da segunda vista, seja no sonambulismo natural ou magnético, seja no estado de vigília. Segundo o grau de poder da faculdade, diz-se que a lucidez é mais ou menos grande. E com a ajuda desta faculdade que certas pessoas vêem o interior do organismo e descrevem a causa das doenças.

26. - A visão espiritual dá, pois, percepções especiais que, não tendo por sede os órgãos materiais, se operam em condições diferentes da visão corpórea. Por esta razão, não se podem esperar efeitos idênticos e experimentar pelos mesmos procedimentos. Cumprindo-se fora do organismo, ela tem uma mobilidade que frustra todas as previsões. E necessário estudá-la em seus efeitos e em suas causas, e não por assimilação com a visão comum, que ela não está destinada a suprir, salvo casos excepcionais e que não se poderiam tomar por regra.

27.-A visão espiritual é necessariamente incompleta e imperfeita entre os Espíritos encarnados, e, por consequência, sujeita a aberrações. Tendo a sua sede na própria alma, o estado da alma deve influir sobre as percepções que ela dá. Segundo o grau de seu desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, ela pode dar, seja no sono, seja no estado de vigília: 1ª a percepção de certos fatos materiais reais, como o conhecimento de acontecimentos que se passam ao longe, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma doença, e os remédios convenientes; 2ª a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a visão dos Espíritos; 3ª imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento.
Estas criações estão sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as cria. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas e preocupadas de certas crenças religiosas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tal como as sejam figuradas: às vezes, é toda uma epopéia; os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro, como os cristãos viam o inferno e o paraíso. Se, ao despertar, ou ao sair do êxtase, essas pessoas conservam uma lembrança precisa de suas visões, elas as tomam por realidades e confirmações de suas crenças, ao passo que isso não é senão um produto de seus próprios pensamentos. Há, pois, uma escolha muito rigorosa a fazer nas visões extáticas, antes de aceitá-las. O remédio para a demasiada credulidade, sob este aspecto, é o estudo das leis que regem o mundo espiritual.

28. - Os sonhos propriamente ditos apresentam as três naturezas de visões descritas acima. É às duas primeiras que pertencem os sonhos de previsões, pressentimentos e advertências; é na terceira, quer dizer, nas criações fluídicas do pensamento que se pode encontrar a causa de certas imagens fantásticas, que nada têm de real com relação à vida material, mas que têm, para o Espírito, uma realidade por vezes tal que o corpo lhe sofre o contra-golpe, e que se tem visto os cabelos embranquecerem sob a impressão de um sonho. Estas criações podem ser provocadas: pelas crenças exaltadas; por lembranças retrospectivas; pêlos gostos, os desejos, as paixões, o medo, os remorsos; pelas preocupações habituais; pelas necessidades do corpo, ou um embaraço nas funções do organismo; enfim, por outros Espíritos, com um fim benevolente ou malévolo, segundo a sua natureza.

10 - O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - 2ª parte cap. viii q 447, 455
Vïï—DUPLA VISTA (SEGUNDA VISTA)
447. O fenómeno designado pelo nome de "dupla vista"'" tem relação com o sonho e o sonambulismo?
— Tudo isso não é mais do que uma mesma coisa. Isso a que chamas dupla vista é ainda o Espírito em maior liberdade, embora o corpo não esteja adormecido. A dupla vista é a vista da alma.
448. A dupla vista é permanente?
— A faculdade, sim; o seu exercício, não. Nos mundos menos materiais que o vosso, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação apenas pelo pensamento, sem excluir, entretanto, a linguagem articulada; também a dupla vista é para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos vossos sonâmbulos lúcidos, e essa é também a razão por que eles se manifestam a vós mais facilmente do que os encarnados de corpos mais grosseiros.

449. A dupla vista se desenvolve espontaneamente ou pela vontade de quem a possui?
— Na maioria das vezes ela é espontânea, mas a vontade também muitas vezes desempenha um grande papel. Assim, podes tomar por exemplo certas pessoas chamadas leitoras da sorte, algumas das quais possuem essa faculdade, e verás que a vontade as ajuda a entrar no estado de dupla vista e nisso a que chamas visão.
450. A dupla vista é suscetível de se desenvolver pelo exercício?
— Sim, o trabalho sempre conduz ao progresso, e o véu que encobre as coisas se torna transparente.
450-a. Esta faculdade se liga à organização física?
— Por certo, a organização física desempenha o seu papel; há organismos que se mostram refratários.
(1) Kardec usou as duas expressões "Secunda Vista" e "Dupla Vista", com evidente preferência pela primeira. Em português, sendo comum a "dupla vista", demos preferência a esta.

451. De onde vem que a dupla vista pareça hereditária em cenas famílias?
— Similitude de organizações, que se transmite, como as outras qualidades físicas; e depois, desenvolvimento da faculdade, por uma espécie de educação, que também se transmite de um para outro.
452. É verdade que certas circunstâncias desenvolvem a dupla vista?
— A doença, a proximidade de um perigo, urna grande comoção, podem desenvolvê-la. O corpo se encontra às vezes num estado particular, que permite ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos do corpo.
Os tempos de crise e de calamidades, as grandes emoções, todas as causas, enfim, de superexcitação moral provocam às vezes o desenvolvimento da dupla vista. Parece que a Providência nos dá, em presença do perigo, o meio de o conjurar. Todas as seitas e todos os partidos perseguidos oferecem numerosos exemplos a respeito.

453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência disso?
— Nem sempre; para elas, é coisa inteiramente natural, e muitas dessas pessoas acreditam que, se todos se observassem nesse sentido, perceberiam ser como elas.
454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de dupla vista a perspicácia de certas pessoas que, sem nada terem de extraordinário, julgam as coisas com mais precisão do que as outras?
— E sempre a alma que irradia mais livremente e julga melhor do que sob o véu da matéria.
454-a. Esta f acuidade pode, em certos casos, dar a presciência das coisas?
— Sim; ela dá também os pressentimentos, porque há muitos graus desta faculdade, e o mesmo indivíduo pode ter todos os graus ou não ter mais do que alguns.

VIÏÏ — RESUMO TEÓRICO DO SONAMBULISMO, DO ÊXTASE E DA DUPLA VISTA
455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e independem de qualquer causa exterior conhecida; mas, entre algumas pessoas, dotadas de organização especial, podem ser provocados artificialmente, pela ação do agente magnético.
A emancipação da alma se manifesta às vezes no estado de vigília, e produz o fenômeno designado pelo nome de dupla vista, que dá aos que o possuem a faculdade de ver, ouvir e sentir além dos limites dos nossos sentidos. Eles percebem as coisas ausentes, por toda parte, até onde a alma possa estender a sua ação; vêem, por assim dizer, por meio da vista ordi­nária, como por uma espécie de miragem.

No momento em que se produz o fenômeno da dupla vista, o estado físico é sensivelmente modificado: os olhos têm qualquer coisa de vago, olhando sem ver, e toda a fisionomia reflete uma espécie de exaltação. Constata-se que os órgãos da visão são alheios ao fenômeno, ao verificar-se que a visão persiste, mesmo com os olhos fechados. Esta faculdade se afigura, aos que a possuem, tão natural como a de ver: consideram-na um atributo normal, que não lhes parece constituir exceção. O esquecimento se segue, em geral, a essa lucidez passageira, cuja lembrança se torna cada vez mais vaga, e acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da dupla vista varia desde a sensação confusa até à percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. No estado rudimentar, ela dá a algumas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança nos seus atos, a que se pode chamar a justeza do golpe de vista moral. Mais desenvolvida, desperta os pressentimentos, e ainda mais desenvolvida, mostra acontecimentos já realizados ou em vias de realização.

O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista não são mais do que variedades ou modificações de uma mesma causa. Esses fenômenos, da mesma maneira que os sonhos, pertencem à ordem natural. Eis por que existiram desde todos os tempos; a História nos mostra que eles foram conhecidos, e até mesmo explorados, desde a mais alta antiguidade, e neles se encontra a explicação de uma infinidade de fatos que os preconceitos fizeram passar como sobrenaturais.

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