Caravana da Fraternidade

Caravana da Fraternidade
Francisco Spinelli

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ideias de Kardec sobre a Unificação no Movimento Espírita

Marcelo Mota
Janeiro de 1868. Allan Kardec publica, sob grande expectativa, a obra A Gênese. Estava concluída a Codificação da nascente Doutrina dos Espíritos. Entretanto, perscrutando os escritos do Codificador, parece-nos que sua atenção como que muda de direção nos dois últimos anos de sua existência.

A Doutrina está formulada em seus aspectos fundamentais; mas, e quanto ao Movimento que dela certamente surgiria? Tanto é verdade que o próprio Kardec afirma que “dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar”.2 E ainda confessa: “sempre nos preocupamos com o futuro do Espiritismo”.3 É provável que esta preocupação tenha ganhado força, pois anos antes recebera dos Espíritos superiores uma revelação sobre a Missão do Espiritismo, quando afirmaram que “ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses”.4

Urgia, pois, que Allan Kardec dedicasse seus últimos dois anos aqui na Terra a planos e projetos que norteassem de forma segura os continuadores de sua obra. Grande parte desse legado sobre o Movimento Espírita, Kardec deixou em escritos isolados que foram reunidos por seus familiares e amigos em Obras Póstumas, publicada em janeiro de 1890. Apesar de seus 120 anos de existência, é ainda uma desconhecida entre nós, trabalhadores da Seara Espírita. A fim de prestarmos singela homenagem, traremos aqui pequena amostra da riqueza de informações que reúne em suas páginas. Veremos que as ações atuais do Movimento Espírita, reunidas sob o estandarte da Unificação, surgiram na mente do próprio mestre lionês.

Elas constam, em grande parte, no que ele denominou de “Projeto 1868”. Suas expectativas quanto ao Movimento Espírita ficam claras quando confessa que “um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade”.2 Preocupado com o estudo espírita, Kardec menciona no referido Projeto que “um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de [...] difundir o gosto pelos estudos sérios”.5 E continua, asseverando que “esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios”.

5 Ora, mas não seria a mesma unidade a que aludimos anteriormente e cuja falta acarretaria em “um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina”?2 Como se não bastasse, o Codificador finaliza dizendo que esse curso deverá “exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências”.5 Se há uma missão futura a ser desempenhada pelo Espiritismo, esta dependerá deste curso.Na atualidade, encontramos o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE), arranjado e organizado numa estrutura lógica que favorece o aprendizado. Coube à Federação Espírita Brasileira (FEB), na reunião anual do Conselho Federativo Nacional (CFN), de novembro de 1983, fazer o lançamento da Campanha Nacional do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita.6

Em seguida, Kardec afirma que uma publicidade em larga escala [...] levaria ao mundo inteiro, até às localidades mais distantes, o conhecimento das ideias espíritas, despertaria o desejo de aprofundá- as e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores [...].7

Em seu esforço na criação da Revista Espírita, nem imaginava as dimensões que tomaria a divulgação da Doutrina.Hoje vemos o Espiritismo alcançar os quatro cantos do planeta.As páginas de Reformador contam não apenas com a firmeza de seu conteúdo, mas também com a excelente qualidade gráfica com que a revista é feita. Alcança todos os cantos do país e é remetida também para o Exterior.

Além disso, um veículo como a TVCEI cumpre à risca os planos de Kardec, pois começa a transmitir programas feitos inteiramente nos idiomas de diversas nações. Em auxílio a este extenso programa de difusão, vem o ininterrupto apoio do Esperanto, a Língua Internacional Neutra, para a qual já foram vertidas inúmeras obras espíritas, que praticamente levaram o Consolador a diversas nações, em especial às do Leste Europeu.

Outro aspecto é contemplado por Kardec: acompanhar de perto o Movimento Espírita local. Para isso, idealiza as viagens espíritas.

Diz-nos o mestre lionês que “dois ou três meses do ano seriam consagrados a viagens, em visita aos diferentes centros e a lhes imprimir boa direção”.8 Confessamos que nossa primeira lembrança foram as reuniões promovidas pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, tanto as que são realizadas em âmbito nacional como em nível regional (Comissões Regionais). Mas em muitos estados brasileiros têm sido realizados encontros semelhantes, reunindo as instituições espíritas daquelas mesmas localidades, normalmente orientados pelas Entidades Federativas Estaduais. Kardec vai mais além. Chega a sugerir que, se os recursos o permitissem, instituir-se-ia uma caixa para custear as despesas de viagem de certo número de missionários, esclarecidos e talentosos, que seriam encarregados de espalhar a Doutrina.8

Missionários! Não há palavra para melhor descrever Arthur Lins de Vasconcellos, Carlos Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio, Leopoldo Machado e Luiz Burgos Filho.Afinal, foram eles os continuadores desta outra ideia de Kardec: os Caravaneiros da Fraternidade. Empreenderam há 60 anosuma nova forma de levar a segurança doutrinária sob a égide da Unificação aos quatro cantos do País. Que venham novos caravaneiros, do Brasil e do mundo! Unificação. Sua prática parece utópica. Sobre o tema Dr. Bezerra vem nos trazer sua palavra forte, porém fraterna, dizendo que a tarefa da unificação é paulatina; a tarefa da união é imediata, enquanto a tarefa do trabalho é incessante, porque jamais terminaremos o serviço, desde que somos servos imperfeitos, e fazemos apenas a parte que nos está confiada.9

Tenhamos a paciência que nos recomenda Bezerra, mas não deixemos o labor. E lembremos sempre de voltar nossos olhares para a fonte clássica e generosa do manancial doutrinário: a Codificação! Ousaríamos dizer mesmo que é a própria “crestomatia” da Doutrina Consoladora, a mãe de toda literatura espírita. ESDE, Reformador, TVCEI, trabalho federativo, caravanas da fraternidade.

Há muito que fazer. Divulguemos isto e sejamos servidores fiéis à tarefa! Honremos os ideais de Allan Kardec e, por consequência, do próprio Jesus! Relembrando uma vez mais o Codificador, diremos uns aos outros, companheiros deste ideal nobre: “Não vos apresseis, amigos.

[...] deixai que falem os dissidentes [...]”.10 Porque, como nos adverte um dos maiores mentores do nascente Movimento Espírita, o Espírito Erasto, os espíritas que se acham no bom caminho serão reconhecidos “pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão”.11

Referências:

1KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atualizada).Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, A minha primeira iniciação no espiritismo, item Futuro do espiritismo, p. 330.
2______. ______. P. 2, Projeto 1868, p.373-374.
3______. ______. P. 2, Constituição doespiritismo, § 1 – Considerações preliminares, p. 381.
4______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 799.
5______. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, Projeto 1868, item Ensino espírita.
6 ROCHA, Cecília. (Organizadora). Estudo sistematizado da doutrina espírita: programa fundamental. 2. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. T. 1, Apresentação.
7 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, Projeto 1868, item Publicidade.
8______. ______. P. 2, Projeto 1868, item Viagens.
9 FRANCO, Divaldo P. Unificação paulatina, união imediata, trabalho incessante.... Pelo Espírito Bezerra de Menezes. In: Reformador, ano 94, n. 1.763, p. 19(43), fev. 1976. Ver também: EQUIPE FEB (Coordenação de SOUZA, Juvanir Borges de). Bezerra de Menezes – ontem e hoje. 4. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 156.
10 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, A minha primeira iniciação no espiritismo, item Marcha gradativa do espiritismo. Dissidências e obstáculos, p. 362-363.
11______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 20, item 4, p. 355.

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